Em editorial, a Folha adverte que o (des)governador Geraldo Alckmin brinca com fogo e os paulistas poderão se queimar. O posicionamento é inatacável, desta vez assino embaixo de cada palavra:
“… a crise de abastecimento [de água] é grave. Reconheça-se que se abate sobre a Grande São Paulo a maior estiagem em 84 anos –e, segundo especialistas, o panorama só deve melhorar a partir de meados de outubro.
Diante desse cenário excepcional, seria de esperar respostas também excepcionais, mas o governo paulista parece orientar-se mais pelo cronograma eleitoral do que pelo calendário das chuvas.
…Num ano eleitoral, opta-se pela solução menos desgastante para a imagem da administração estadual: o uso do volume morto.
…uma segunda parte dessa reserva (…) acrescentará 10,7 pontos percentuais à capacidade das represas.
Dado o ritmo de queda do Cantareira, o volume atual se esgotará em dois meses. Com a nova cota, o sistema ganhará sobrevida até fevereiro; o governador sustenta que as águas alcançarão março.
Que seja. Mesmo que as expectativas oficiais se confirmem, estará desenhado um quadro hídrico alarmante para o próximo ano.
…Ou seja, a não ser que as chuvas deste verão sejam abundantes, o sistema chegará ao início do próximo período de estiagem já num nível bastante crítico.
Como se vê, não se trata simplesmente de garantir o abastecimento até março de 2015. Mesmo que isso esteja assegurado, convém perguntar: e depois?“
“A atual conjuntura climática é inédita: os 13 anos deste século estão entre os 14 mais quentes desde que se mede a temperatura de forma sistemática. Da Califórnia, nos EUA, ao Brasil, estiagens inusitadas geram escassez no abastecimento de água, queda na produção agrícola, picos nos preços na energia.
…No Brasil, em plena campanha eleitoral, seria importante os candidatos à Presidência explicarem como pretendem enfrentar um tema que já deixou de ser ameaça e se tornou realidade.
…Na perspectiva econômica, a única maneira de enfrentar a mudança climática é a de precificar o carbono, como agora reconhecem alguns importantes formadores de opinião. Ao precificar o carbono, seja por meio de impostos ou de alocação de cotas, promove-se a inovação e a eficiência.
Essa medida é essencial no Brasil, pois há dois indicadores preocupantes de perda de competitividade. O primeiro é que no último decênio piorou nossa quantidade de energia necessária para produzir uma unidade de PIB, isto é, nossa intensidade energética. O segundo é a piora de nossa intensidade de carbono, ou seja, a emissão de gases estufa por unidade de PIB.
…é sinal de que precisamos reverter a atual tendência. Corretamente, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que ao reduzir emissões nos tornamos mais produtivos. Mas as atuais políticas públicas não captam esse conceito [o grifo é meu]“.
“Na sexta passada (19), a presidente Dilma afirmou que ‘o papel da imprensa não é de investigar, e sim de divulgar informações’. A imprensa tomou nota e obedeceu. Ouviu a fala da presidente, dispensou-se de investigá-la e divulgou sua declaração.
Aliás, nem haveria o que investigar, já que foi uma declaração para vários jornalistas ao mesmo tempo, e no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Como todos os jornais publicaram a mesma frase, supõe-se que foi exatamente o que a presidente falou e disse.
Dois dias depois, no entanto, Dilma acusou a imprensa de ter feito ‘uma confusão danada’ com a sua declaração. Disse que não disse o que disse, mas que, ao contrário, a imprensa deve investigar, sim, ‘para informar e até para fornecer prova’. E foi além: ‘O jornalismo investigativo pode até fornecer elementos. Agora, quem faz a prova é a investigação oficial. Sem ela, você não consegue condenar ninguém’.
É verdade. Se, mesmo com a investigação oficial, não se consegue condenar ninguém, imagine sem. Mas foi refrescante ouvir de Dilma que ela autoriza a imprensa a investigar –até para evitar outras ‘confusões danadas’ quando se trata de divulgar o que ela diz e, ao ser alertada para as gafes que comete, desdiz. Como isso é frequente, o aconselhável seria que a imprensa, ao ouvir suas declarações, fosse logo investigar para saber se ela declarou ou não o que declarou“.
“Uma das mais graves consequências da submissão das campanhas eleitorais ao domínio irresponsável dos ‘marqueteiros’ é a deseducação do honesto cidadão e a vacina contra a ética que transmitem à sociedade.
Não tem o menor constrangimento de afirmar o ‘fisicamente impossível’ ou mentir descaradamente, confiados na ingenuidade que é própria daqueles aos quais os sucessivos poderes incumbentes negaram, pela falta de educação, o espírito crítico. Trata-se de um processo de reprodução da mediocridade.
…Para o “marqueteiro” tudo isso não interessa. Se vendeu ou não o seu ‘sabonete’, embolsa a grana da sua genialidade e vai descansar até a próxima eleição. Para o candidato eleito não!
As falsidades que o elegeram são as mesmas que lhes serão cobradas no exercício do governo“.
“Afirmar que um Banco Central independente ‘rouba a comida da boca do pobre’ é uma ignomínia.
Independente de quem, se sua diretoria é escolhida pelo presidente que lhe fixa os objetivos e aprovada pelo Senado, ao qual presta contas regularmente?“