Nelson Jobim
RECUOS E CAPITULAÇÕES NÃO FARÃO AFLORAR A VERDADE
Eles venceram o 1º round. Quantos outros recuos haverá? |
Como era esperado, os compromissos da governabilidade pesaram mais na decisão de Dilma do que a coerência com a própria história de vida: quem sempre afirmou que os militantes se igualavam aos verdugos (“ambos cometeram excessos”) é a pior direita que existe, a das viúvas da ditadura.
Sempre achei que o mais adequado para o papel fosse o Ivan Seixas, tanto que constantemente o indicava como uma ótima possibilidade.
De resto, o cenário que se desenha é o do parto da montanha produzir um rato: os militantes já cansaram de proclamar a verdade e os militares não terão motivo nenhum para abdicar da mentira.
A tendência é que se sistematizem as versões já conhecidas sobre as execuções e demais atrocidades da ditadura, pouco se avançando na descoberta dos armários em que eles guardaram os esqueletos –salvo se a Comissão pudesse ao menos ordenar a prisão dos comprovadamente perjuros.
Mas, é óbvio que isto não ocorrerá.
CONIVENTE COM A FASCISTIZAÇÃO, O PT SERÁ POR ELA TRAGADO
Não é fácil compreender como o ovo da serpente pôde ser chocado no governo do PT |
“…estamos dentro de uma espiral de violência e repressão…” |
A repressão direcionada contra o “inimigo interno” é característica do totalitarismo |
TORTURADORES ALIVIADOS: NEM MESMO AÇÕES CIVIS OS AMEAÇAM
Anunciada a decisão presidencial, foi também no mesmo dia que antecipei: Peluso e Mendes ainda esperneariam um pouco antes de reconhecerem a derrota, mas não havia como o Supremo renegar o que ele próprio estabelecera. Dito e feito.
Da mesma forma, o caminho para a punição dos torturadores dos anos de chumbo passava obrigatoriamente pela revogação da anistia preventiva que os déspotas concederam a si e a seus esbirros em 1979.
É mais um oásis que evapora ao nos aproximarmos dele: o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo) acaba de decidir que os militares acusados de torturar presos políticos no DOI-Codi paulista durante a ditadura não podem mais ser condenados porque seus crimes já prescreveram.
JOGO DE CINTURA
“O trecho da reportagem da ‘Piauí’ que mais irritou Dilma não foi a citação às ministras, mas como Jobim relatou à revista conversa entre os dois sobre a contratação do ex-deputado José Genoino para ser assessor na Defesa.Segundo a revista, ela perguntou se ele seria ‘útil’, ao que Jobim respondeu: ‘Presidente, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu’“.
JOBIM: SUA REMOÇÃO DEMOROU UMA ETERNIDADE
JOBIM RISES AGAIN: ATACA MINISTRAS E DIZ QUE LULA É BOCA SUJA
Esta imagem NÃO é da série “Jim das Selvas”. Só parece. |
Confesso: não vi o Roda Viva com o porta-recados dos milicos no Ministério. O “Vai! Vai! Vai! Não vou!” jobiniano já me cansou. Na categoria pastelão, prefiro os Irmãos Marx.
“…Jobim pôde dissimular à vontade, sempre precisando, a cada pergunta não desejada, ‘voltar um pouco mais atrás’ e enveredar por uma historiada que nunca chegou à resposta pedida.Quem são os idiotas, afinal? Lá veio uma enrolação incompreensível, puxada de décadas, sem nexo e sem fim. E o seu texto metido no original da Constituição ao revisá-lo, qual é? ‘É preciso voltar mais atrás’, e nada. Por que a Avibrás, uma empresa bem equipada e competente, está de fora nos planos para a indústria de defesa? Nada…E ainda os chutes: ‘Pela mata, [contrabandista, presume-se] não passa, quem conhece a Amazônia como eu conheço, sabe disso’.
Se fosse assim, não haveria extrativistas de castanhas e de seringueiras, madeireiros e nem sequer índios. Jobim conhece a periferia de umas trilhas militares, nunca participou de expedição floresta adentro, não sabe que a mata amazônica é das mais transitáveis. Assim em diante.
A dissimulação sem cobrança deu-se bem“.
Esta imagem NÃO é do filme “Apertem os cintos… o piloto sumiu”. Só parece. |
Tem a quarta agora, pois, na revista Piauí que chegará às bancas nesta 6ª feira (05/08), ele qualifica as negociações sobre o sigilo eterno dos documentos oficias como “muita trapalhada” e deprecia novamente colegas do Ministério, no caso Ideli Salvatti (“muito fraquinha”) e Gleisi Hoffmann (“nem sequer conhece Brasília”).
E A PRÓXIMA MÚSICA VAI PARA…
No Roda Viva desta 2ª feira, entretanto, ou ele desconversou, ou está lelé da cuca. Vejam o que disse:
“A presidente é quem decide essas coisas. Se puder continuar, tudo bem. Se não puder, tudo bem“.
“Sou ministro por prazer. Desejo continuar a fazer o que estou fazendo“.
“A presidente Dilma é extraordinária. Minha relação com ela é ótima. Ela tem uma grande visão de Estado, uma visão de futuro“.
“Não tenho nenhum problema, nenhuma dificuldade [com Dilma]“.
PODVAL DÁ O SERVIÇO E DEIXA TOFFOLI EM TOGA JUSTA
“Quem me conhece sabe que não faço e nem sei fazer lobby. Seria absurdo acreditar que convidei o ministro com interesse em alguma causa“.
“É uma decisão pessoal. Conheço muito bem o Toffoli, ele tem absoluta independência“.
BAÚ DO CELSÃO: DEMOCRACIAS NÃO ACEITAM ULTIMATOS
(artigo de 02/09/2007, avaliando o
episódio no qual verdadeiramente se
decidiu qual a postura que o Estado
brasileiro adotaria quanto à punição
dos torturadores da ditadura. Foi
também a crise a partir da qual Nelson
Jobim desistiu de ser um ministro da
Defesa, tornando-se tão somente o
porta-voz da caserna no Ministério)
Devido à tibieza com que as autoridades têm enfocado os crimes cometidos durante a vigência do terrorismo de estado no Brasil, os defensores dos direitos humanos saudaram a edição do livro como a oficialização de algo que todos já sabiam, mas ninguém afirmava com todas as letras.
Finalmente, é inquietante o trecho que diz: “Não há Exércitos distintos. Ao longo da história, temos sido o mesmo Exército de Caxias”. Implica que, embora o Exército afirme agora estar “voltado para suas missões constitucionais”, não renega o período no qual, submetendo-se à vontade de golpistas que usurparam o poder, ajudou a rasgar a Constituição.
Se o Governo Federal quiser dar a volta por cima, basta abrir a discussão em torno da manutenção ou não da Lei da Anistia.
Usando como moeda de troca os resistentes que estavam presos e os exilados que queriam retornar ao País, os militares impuseram em 1979 o perdão antecipado de suas práticas hediondas.