Dilma Rousseff

VÃO SURGINDO OS NOMES DO MINISTÉRIO FIM DE FEIRA

Para atrair tico-ticos o fubá do Palácio do Planalto serve…
Segundo mandato presidencial no Brasil costuma ser fim de feira, mas Dilma Rousseff não precisava exagerar. Os nomes que vão sendo definidos para o seu novo Ministério parece que conseguirão o impossível: fazer-nos sentir saudades do anterior…
Para pilotar a economia em transe, dois subalternos de governos anteriores, os esforçados Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). Igualzinho a time de futebol sem banco de reservas à altura: quando o titular é convocado para a Seleção, o técnico bota um garoto da base e fica rezando para dar certo. Deus dificilmente atende. 
Milagreiro dos milicos pode ser ministro de fato. De direito, não.
Fico surpreso por ela não ter recorrido ao Delfim Netto, eminência parda da política econômica nos dois primeiros governos do PT.  Pelo menos, já está acostumado a jogar no time principal.
Talvez seja apenas para não associar-se de forma tão explícita à nefanda ditadura militar. Por baixo do pano pode, conforme reza o evangelho segundo Lula: bastaria botar um Antonio Palocci qualquer fingindo dar as ordens, enquanto estivesse seguindo aplicadamente as diretrizes traçadas por quem é do ramo.
Mas, se o motivo for a péssima reputação do gordo signatário do AI-5, o que dizer da escolha da grande dama do agronegócio selvagem, Kátia Abreu, para o Ministério da Agricultura? Aí eu não entendo mais nada…
Por que não mudar o nome para Ministério do Agronegócio?
Finalmente, como Dilma é bem diferente de Marina Silva e Aécio Neves (a quem ela atribuía vassalagem ao grande capital), o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio será Armando Monteiro, a menina dos olhos da Confederação Nacional da Indústria. 
E o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, só não ficou com a Pasta da Fazenda porque não quis. Entre o poderoso chefão Lázaro Brandão e a presidenta da República, ele preferiu obedecer ao primeiro. Entre o poder econômico e o poder político, ele sabe muito bem quem realmente manda no Brasil
Mais fim de feira, impossível.

JUÍZO FINAL: O QUE VEM DEPOIS?

Dois dos expoentes mais conhecidos da nova direita se indignaram com a participação de pregadores de um golpe militar nos protestos deste sábado, 15: Reinaldo Azevedo garantiu que, na capital paulista, a grande maioria dos participantes estava lá só para pedir o impeachment de Dilma, e não uma reditadurização do País; e Lobão foi embora quando notou a existência de faixas das vivandeiras de quartéis.
Sinceridade ou conveniência tática? Sei lá. Não serei eu a apresentar como verdades absolutas as minhas conjeturas -ainda mais quando estas se referem a personagens com os quais antipatizo. Vejo o ad hominem e as campanhas de satanização como duas das maiores pragas da internet, então tento ser justo com todos, até mesmo com os Azevedos e Lobões.
O certo é que o ingrediente verde-oliva só entra nas receitas golpistas no momento de levar a porcaria ao forno. Trata-se do toque final do chef. Então, quem fala nisso precocemente está sendo tão desastrado quanto quem vandaliza portas de editoras.
É gratificante perceber que as quarteladas se tornaram tão impopulares no Brasil que a própria direita tenta delas se dissociar.
Mesmo assim, não devemos baixar de todo a guarda. Salta aos olhos que a cartada do impeachment será tentada e tem chance de resultar. As hipóteses, então, serão três:
  • o governo conseguir evitar que o impedimento seja votado pelo Congresso, o que manteria  intacto o potencial nocivo desta bandeira e, pior ainda, levaria água para o moinho dos que defendem uma solução inconstitucional;
  • o impeachment tramitar, ser votado e rejeitado, o que provavelmente desarmaria a bomba-relógio, garantindo a incolumidade do Governo Dilma;
  • o impeachment ser aprovado, o que levaria ao poder Michel Temer, o qual dificilmente terá deixado sua digital impressa numa ilegalidade que justificasse também sua impugnação (é matreiro demais para isto e não responde pelos pecados alheios, como a presidenta).
Numa análise fria, as perspectivas são estas.
E eu insisto que a pior possibilidade possível é a do golpe de estado. No século passado, nossa primeira ditadura durou 15 anos e a segunda, 21. Depois de instaladas, é muito difícil as removermos. E o preço que por elas pagamos, do ponto de vista da civilização, é altíssimo. Equivale a retrocedermos um milênio, voltando ao absolutismo medieval.
Acredito que, como consequência da Operação Lava-Jato da Polícia Federal e de seu novo desdobramento (Juízo Final), bem como do que ainda está por vir, o Governo Dilma terá pouquíssima credibilidade se simplesmente driblar o desafio. Vai se tornar um morto-vivo, a exemplo de Guido Mantega, que está ministro da Fazenda mas há bom tempo deixou de ser visto, acatado e respeitado como tal.
Para o Brasil, o melhor será se a rejeição do impeachment colocar uma pedra em cima do assunto da conivência ou não de Dilma com a corrupção na Petrobrás; ou se a aprovação do impeachment desobstruir os trilhos para sairmos do limbo atual.

AMANHÃ É DIA DO PT SEGURAR SEUS RADICAIS

Os radicais de 1975 foram contidos e a redemocratização avançou.
Um episódio emblemático da redemocratização do Brasil, verdadeiro divisor de águas, foi a missa de sétimo dia de Vladimir Herzog, oficiada por religiosos de três confissões na Catedral da Sé, em 31 de outubro de 1975.
Geisel, que via fortemente ameaçada sua distensão política lenta, gradual e progressiva, prometeu que o ato ecumênico não seria reprimido, desde que houvesse comedimento por parte dos participantes: “Segurem seus radicais, que eu segurarei os meus!”
Isto não significava apenas colocar focinheiras nos agentes da repressão que obedeciam estritamente à cadeia de comando; ele assumiu, na prática, o compromisso de evitar as provocações daqueles que, nas sombras, tentavam criar ou propiciar incidentes capazes de frustrar a redemocratização do País (há quem afirme que a própria prisão de Herzog teve este objetivo, pois poderia ensejar manifestações estudantis em solidariedade a um dos professores mais queridos da ECA/USP).
Os aloprados de 2014 só deram munição para o inimigo
Ele cumpriu a palavra. Então, afora o enorme congestionamento de trânsito que as autoridades causaram para atrapalhar a chegada da multidão à cerimônia, nada houve para empanar o brilho daquela altaneira manifestação de repúdio ao arbítrio. E a abertura não só continuou avançando, como ganhou impulso.
Segurar os radicais é a postura que as autoridades governamentais e os movimentos sociais afinados com o petismo deveriam adotar neste 15 de novembro, quando descontentes com a reeleição de Dilma Rousseff e com os escândalos de corrupção prometem sair às ruas em várias cidades brasileiras.
Dificilmente tais atos de inconformismo reunirão mais de alguns milhares de manifestantes e, não havendo conflitos, sua repercussão política tende a ser pouca.
Já se ocorrer truculência policial ou enfrentamento com aloprados do petismo (como aqueles que foram dar tiros no pé diante da Editora Abril), poderá ser o estopim de uma nova temporada de protestos, do tipo da iniciada em junho/2013.
Com a diferença de que os focos, daquela vez, foram bem menos perigoso para as instituições: inicialmente as tarifas do transporte coletivo, depois as maracutaias da Copa.
Agora o que se pretende, em última análise, é colocar em xeque a permanência de Dilma Rousseff na Presidência da República.
Por ora, são marchas de gatos pingados. Que fiquem assim.
Então, todo cuidado é pouco. Se isto virar campanha de rua, poderá crescer como bola de neve e começaremos a flertar com o pior retrocesso possível e imaginável: um novo 1964.
Olhando o quadro pragmaticamente, parece-me inevitável que as forças de direita façam alguma tentativa nesta direção. Ao governo caberá a escolha do terreno em que travará a batalha:
  • se tudo fizer para evitar que o impeachment seja votado no Congresso Nacional, correrá o risco de ver seu eventual sucesso transferir a decisão para as ruas, na forma de golpe de Estado;
  • se preferir encarar essa luta no parlamento, ou perderá o anel  mas conservaremos os dedos, ou vai obter uma categórica confirmação do mandato de Dilma, que servirá como forte dissuasivo contra eventuais tentativas golpistas.
Aliás, vale esclarecer, a retórica petista é falaciosa ao confundir pedido de impeachment com golpismo. Trata-se, isto sim, da via constitucional para os cidadãos se livrarem de governantes que estejam descumprindo gravemente sua missão. Têm todo direito de o tentarem, desde que cumpram os requisitos legais para tanto, e o Brasil não acabará por causa disto, como não acabou quando Fernando Collor foi expelido.
Já os golpes de estado desencadeiam horrores e atrocidades em cascata, além de tornarem o país um pária entre as nações, com os enormes danos econômicos, políticos e sociais decorrentes.

NINGUÉM É TOTALMENTE DESPROVIDO DE TALENTO. O DE JOSÉ PADILHA, P. EX., É REDIGIR ARTIGOS…

Quando eu já estava desistindo de José Padilha, eis que ele me surpreende com algo realmente bom: seu artigo sobre como o autor de A desobediência civil encararia a eleição presidencial brasileira de 2014. Um texto infinitamente melhor do que suas apologias cinematográficas da bestialidade e da tortura. 

Parece-me que, quanto à escolha de carreira, ele só acertou em termos financeiros (apostar nos maus sentimentos das pessoas rancorosas é receita certa de sucesso!); dedicando-se à escrita, talvez nos oferecesse criações de real valor artístico.

Vamos ao que viemos:

NEM AÉCIO NEM DILMA; 
EU FECHO COM THOREAU

Henry David Thoreau escreveu em Vida sem princípio: ‘O que se chama de política é algo tão superficial e desumano que eu sequer consigo imaginar que tenha a ver comigo’.
E depois, em A Desobediência Civil: ‘Nenhum homem está obrigado à erradicação de qualquer mal, mesmo que seja o mais terrível deles… Mas todo homem tem a obrigação de limpar as mãos e não dar apoio a mal algum’.
A posição do americano Thoreau (1817-1862), construída a partir de uma concepção individualista e extremada da ética –ele foi preso por não pagar impostos a um Estado que aceitava a escravidão–, é inexistente no Brasil, onde impera um pragmatismo escroto.
Acho que seria bom se algum político, artista ou intelectual brasileiro assumisse postura semelhante à de Thoreau. Desse ponto de vista, dar apoio a Aécio ou a Dilma, ao PSDB ou ao PT/PMDB, seria dar apoio à desonestidade e à truculência que constituem a campanha de ambos.
Afinal, dos dois lados existem acordos com políticos desonestos, doadores de campanha para lá de suspeitos (há quem diga que há caixa dois proveniente do desvio de recursos públicos), propagandas eleitorais mentirosas e uma falta de integridade intelectual acachapante.
Dadas as circunstâncias descritas acima, Thoreau bateria de frente com os artistas e intelectuais brasileiros que fizeram questão de declarar seu voto neste ou naquele candidato.
Diria que sacrificaram a sua integridade ética e intelectual em função de escolhas medíocres (quaisquer que sejam elas), feitas à margem dos acontecimentos que realmente importam ao país.
DISPUTAS – E que acontecimentos seriam esses? Thoreau era amante do individualismo radical. Ele valorizava, acima de tudo, atitudes advindas do inconformismo ético e moral. À cabeça me vêm dois juízes: Sergio Moro e Joaquim Barbosa. Foram eles que, para horror da nossa classe política, documentaram como a banda toca no governo, no Congresso e nas empresas estatais.
Pergunto: será que a banda toca do mesmo jeito nos Estados e nos municípios? Será que no Brasil, fornecer para o governo ou para empresas estatais é assinar certificado de suspeição?
Uma coisa é certa: a cada ciclo eleitoral, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, no Executivo ou no Legislativo, há no Brasil uma disputa ferrenha por posições que conferem, para este ou para aquele grupo político, o poder de influir nas decisões relativas aos gastos públicos.
Disputa-se, sobretudo, o poder de indicar (para cargos-chave) gente especializada em aumentar o preço de obras, em receber kick-back (propina) de fornecedores e em distribuir recursos via doleiro. É assim que se irriga o caixa dois dos partidos, é assim que se compra apoio político (mensalões) e é assim que se financiam as próximas eleições.
Tenho a impressão de que, sabedor de tudo isso, Thoreau conclamaria os brasileiros a não comparecer às urnas. Teria a propaganda eleitoral gratuita e os debates do segundo turno como argumentos a favor da sua causa. Perguntaria: ‘E se os dois lados tiverem razão quando falam um do outro?’.
A quem retrucasse que votar fortalece a democracia, Thoreau responderia: as mudanças não virão desta política, virão de fora –de um processo de desconstrução da mesma, movido por indivíduos sem filiação partidária.
Serão os juízes, os jornalistas, os intelectuais inconformados que, estimulando a indignação de seus compatriotas, farão a diferença no longo prazo.
Thoreau escreveu em A escravidão em Massachusetts: ‘O futuro do país não depende de como você vota nas eleições. Depende de que tipo de homem sai da sua casa todos os dias’.
Mas, como somos obrigados a votar, talvez só nos reste mesmo o pragmatismo escroto –a opção de, engolindo nossa convicções éticas, optar pelo mal menor (cada um tem o seu) e associar nossos nomes aos PTs, PSDBs ou PMDBs da vida.
Se é isso, então vamos lá que hoje é dia de eleição: Marcelo Freixo e cia. fecham com Dilma. Marina Silva e cia. com Aécio. Eu fecho com o Thoreau. E você, fecha com quem?

AÉCIO REPRESENTA O RETROCESSO E DILMA, O REPRESAMENTO DO ÍMPETO REVOLUCIONÁRIO.

O último debate eleitoral do 2º turno da sucessão presidencial foi uma reprise dos outros três: Dilma sempre gaguejando e repetindo como disco arranhado a propaganda (enganosa, como toda propaganda) oficial, Aécio sempre causando impressão um pouco melhor, nada de espantar, mas algo mais próximo do que deva ser quem exerce a Presidência da República.
Um batalhão de pesquisadores, coordenado por marqueteiros, os mune de um imenso arsenal de dados que só servem para exibirem e depois jogarem fora: presidente estabelece prioridades e coordena seus ministros, não se ocupa pessoalmente das questiúnculas administrativas. Embora pose fingindo inspecionar obras ou atrapalhando os que trabalham em situações de emergência, aquilo tudo é só pra videota ver.  
Então, se nos ativéssemos apenas às qualidades pessoais para o exercício da função presidencial, teríamos de votar em Aécio Neves, que sugere, ainda que remotamente, um estadista. 
Dilma Rousseff fez questão de projetar a imagem de gerentona porque, no fundo, era a única convincente no seu caso. Afinal, não passa de uma guerrilheira que virou tecnoburocrata. 
Antes, queria contribuir para a revolução, uma obra coletiva que depende, fundamentalmente, de que os explorados, em algum trecho do caminho, assumam a causa e a levem à vitória. Se ela houvesse permanecido fiel aos ideais de outrora, teria estimulado a conscientização, participação e organização do povo, pois é ele quem pode fazer a revolução. Revolucionários somos apenas os abre-alas, não os sujeitos da revolução.
Mas, a derrota dos anos de chumbo lhe fez muito mal e suas ambições se reduziram a quase nada. Passou a se ver meramente como uma gestora do capitalismo, que tenta gerenciar melhor o aparelho de estado, do ponto de vista de obter algumas pequenas benesses a mais para o povão (comparativamente às concedidas pelos governos de direita).
Ora, já faz mais de um século que os teóricos marxistas fulminaram o reformismo como uma via política que, tornando o capitalismo um pouco menos selvagem, só serve para assegurar-lhe sobrevida, já que ninguém aguenta ser tratado indefinidamente a ferro e fogo. Dilmas e Lulas apresentam ao povo a face humana do capitalismo, o que apenas o impele a se conformar ao invés de lutar. 
Se queres um monumento, compara os contingentes combativos das Ligas Camponesas e dos primórdios dos movimentos de sem-terra com os apáticos e amorfos beneficiários do Bolsa Família. Uns queriam arrancar seus direitos das garras exploradores. Outros ficam à espera que a esmola lhes caia do céu, só se diferenciando dos mendigos por não terem de suplicar por ela, bastando entrarem na fila do banco.  Dos primeiros, alguns certamente engrossariam as fileiras revolucionárias, se houvesse uma revolução em curso. Dos segundos só podemos esperar prostração e abulia.
Há dois pecados capitais que devem afastar os revolucionários da opção Dilma Rousseff: 
  • sua persona política, hoje, é de quem encara os explorados como objetos (beneficiários) da sua atuação, não como os sujeitos que precisam ser estimulados a cumprirem seu papel histórico. Ela substitui a mobilização revolucionária pela arregimentação dos eleitores para garantirem mandatos aos gerenciadores corretos, reassumindo, logo ao saírem da cabine de votação, a sua condição de zeros à esquerda, a serem devidamente tutelados pelos que sabem o que é melhor para eles. É o contrário de tudo que Marx e Proudhon nos ensinaram;
  • e, não se contentando em colocar os explorados no seu devido lugar por meio das políticas de governo, recorreu à repressão pura e simples para sufocar o despertar das massas nas jornadas de junho de 2013 e subsequentes, tudo fazendo para abortar o que, para quem permaneceu revolucionário, representava a maior esperança surgida desde a domesticação do Partido dos Trabalhadores. Foi imperdoável e eu, pelo menos, jamais perdoarei o PT por isto; quase vomitava ao ler, nos posts dos blogueiros amestrados que oscilam na órbita palaciana, as mesmíssimas falácias, diatribes e incitação à bestialidade fardada que os arqui-reacionários de então, como Nelson Rodrigues, lançavam contra o movimento estudantil de 1968.

Mas, se o PT, como partido (companheiros valorosos ainda existem por lá e poderão ser muito úteis quando buscarem melhor companhia), está perdido para a revolução e se o indivíduo Aécio Neves cai melhor no figurino presidencial do que Dilma Rousseff, deveríamos votar nele?

Não, mil vezes não! Pois importa mesmo é a força política que governará, não seu garoto-propaganda. O que têm os tucanos a oferecerem, além de uma melhor adequação do Brasil ao papel subalterno e dependente que lhe cabe no capitalismo globalizado? Presumivelmente, eles apenas corrigirão os erros de gerenciamento (mesmo na ótica estritamente capitalista…) cometidos na caótica gestão de Dilma Rousseff e vão ocultar com mais discrição a sujeira debaixo do tapete –afinal, a grande imprensa decerto cooperará neste mister, voltando aos miados da era FHC, ao invés dos rugidos de ultimamente.

Têm tão pouco a oferecerem ao povo como em 2002, quando foram varridos do poder por Lula. Que haja tantos brasileiros hoje dispostos a andarem para trás é estarrecedor! Mostra quanto o PT decepcionou aqueles que nele apostaram.
Noves fora, Aécio representa o retrocesso e Dilma, o represamento do ímpeto revolucionário sob a batuta (e a repressão!) dos reformistas. Merecem ser ambos repudiados. Merecem que o povo lhes atire sua decepção na cara, pois um não oferece esperança nenhuma e a outra frustrou miseravelmente as imensas esperanças que seu partido despertou.
A maneira que resta para expressarmos nossa indignação é recusa das opções que nos estão sendo oferecidas, seja (preferencialmente) anulando o voto, seja votando em branco ou mesmo, por meio da abstenção, não desperdiçando tempo com uma eleição que, além de não prenunciar verdadeira melhora, apresentou a campanha mais imunda e medíocre desde a redemocratização.

A veja TUMULTUA A ELEIÇÃO COM O FANTASMA DO IMPEACHMENT DE DILMA

O risco contra o qual venho há tempos alertando acaba de se materializar: a veja antecipou em um dia a distribuição da edição 2.397, de forma a colocar a eleição presidencial sob a lâmina de uma guilhotina: a do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 
É manipulação às escâncaras, um óbvio crime eleitoral. 
A revista normalmente entra em bancas no sábado e tem sua capa e resumo das principais matérias divulgada na noite de 6ª feira. Todo o cronograma foi adiantado em 24 horas, só cabendo uma explicação: o objetivo foi permitir que Aécio Neves aproveitasse a munição nova no debate final da Globo, além de aumentar estrategicamente o prazo para a bomba repercutir, produzindo consequências nas urnas. 
E qual é esta bomba, afinal? Trata-se da atribuição, ao delator premiado Alberto Youssef, da seguinte afirmação, ao ser interrogado por um delegado da Polícia Federal:

— O Planalto sabia de tudo!

O delegado teria perguntado a quem no [Palácio do] Planalto o doleiro aludia, recebendo como resposta: “Lula e Dilma”.

Reinaldo Azevedo, o blogueiro mais reacionário da revista mais reaça do Brasil, duas semanas atrás já antecipara que a direita poderia partir para o impeachment, neste parágrafo de sua coluna semanal na Folha de S. Paulo:

Reinaldo Azevedo é o principal arauto do impeachment

Prestem atenção! Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef mal começaram a falar. A depender do rumo que as coisas tomem e do resultado das urnas, o país voltará a flertar, no próximo quadriênio, com o impeachment, somando, então, a crise política a uma economia combalida.

Só perfeitos ingênuos acreditarão que ele já não soubesse qual seria a derradeira cartada da veja
Agora, ao trombetear a nova denúncia no seu blogue, ele é mais explícito ainda:

Se as acusações de Youssef se confirmarem, é claro que Dilma Rousseff tem de ser impedida de governar caso venha a ser reeleita, mas em razão de um processo de impeachment, regulado pela Lei 1.079…

E, para martelar bem a ideia, ele a repetiu no final do seu post, grifando a ameaça para torná-la ainda mais ribombante:

Se Dilma for reeleita e se for verdade o que diz o doleiro, DEVEMOS RECORRER ÀS LEIS DA DEMOCRACIA — não a revoluções e a golpes — para impedir que governe.

Evidentemente, os grãos petistas falarão em terrorismo eleitoral, minimizando a possibilidade de os acontecimentos se encaminharem em tal direção.

Mas, se precedentes valem alguma coisa, a permanência de Getúlio Vargas no poder foi duas vezes interrompida por manobras semelhantes:

  • em 1945, os Estados Unidos jogaram todo seu peso de bastidores para forçá-lo (da mesma forma que o argentino Juan Domingo Perón) a deixar o poder; 
  • e, como o ciclo varguista persistiu, com a eleição do poste que ele apadrinhou (Eurico Gaspar Dutra) seguida por sua volta ao Palácio do Catete em 1951, a direita militar exigiu que renunciasse para não ser deposto, tendo ele preferido uma outra opção, o suicídio.

Outro precedente agourento é o de 1964: o PCB subestimou o risco de golpe de estado, não montando nenhum dispositivo militar próprio para defender o mandato legítimo de João Goulart, daí os golpistas terem derrubado o governo com a facilidade de quem tira doce da boca de uma criança.

Se as agora coisas chegarem a tal extremo, a História certamente se repetirá, pois inexiste dispositivo militar autônomo ou contingentes populares preparados para reagirem à altura. O PT não fez a lição de casa.

DILMA SEGUE O CONSELHO DO BLOGUE: ADMITE CORRUPÇÃO NA PETROBRÁS E PROMETE "RESSARCIR TUDO E TODOS".


No post Propinoduto: Dilma deve fazer o jogo da verdade ou continuar tapando o sol com a peneira? (acesse aqui), eu reproduzi uma notícia da Folha de S. Paulo sobre os bastidores do PT, dando conta de que alguns grãos petistas aconselhavam a presidenta a admitir a ocorrência de práticas condenáveis na Petrobrás e outros, a manter a desconversa.

Apontei-lhe o bom caminho: “…agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira”.

E conclui com um bordão de minha autoria (por que não?): a transparência é revolucionária!

Registro, com satisfação, que desta vez a Dilma ficou com os mocinhos, botando os bandidos pra correr. Eis sua declaração deste sábado, 18:

Eu farei todo o meu possível para ressarcir o País. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve! Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos.

Bravíssimo! 

PROPINODUTO: DILMA DEVE FAZER O JOGO DA VERDADE OU CONTINUAR TAPANDO O SOL COM A PENEIRA?

Como jornalista veterano, sinto-me muito frustrado por não contar atualmente com fontes que me passem informações de cocheira. Este é um privilégio de quem está na ativa e em veículos importantes, podendo, portanto, oferecer a contrapartida –ou seja, prestar favores jornalísticos a tais fontes. Toma lá, dá cá.

Então, só me resta disponibilizar para os leitores deste blogue as notícias sobre movimentações nos bastidores que encontro na mídia e me pareçam significativas, de antemão alertando que nem sempre os informantes são isentos, podendo ter induzido os repórteres a erros.

A notícia Ala do PT propõe que Dilma reconheça erros na Petrobras, da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, apresenta um quadro plausível da disputa que certamente está rolando nos círculos decisórios do partido. Se correto ou não, é impossível nós, que estamos do lado de fora, determinarmos.

Enfim, se non è vero, è ben trovato, diriam os italianões da Mooca e do Brás que eu conheci na minha meninice.

Dando-se crédito ao relato dos repórteres Valdo Cruz e Natuza Nery, agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira.

Hoje mais do que nunca, face ao que muitos esquerdistas se tornaram, a transparência é revolucionária! 

Eis o que há de mais interessante na notícia:
A cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff está dividida sobre a melhor estratégia para enfrentar o escândalo da Petrobras…
Um grupo avalia que a tática mais eficaz seria reconhecer que houve erros na gestão da estatal, insistir que os culpados devem pagar por eles e que a Justiça Federal dará a palavra final sobre a responsabilidade de cada um, buscando virar a página do escândalo.

Segundo a Folha apurou, são favoráveis a esta posição o marqueteiro da campanha João Santana, Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha, Jaques Wagner, atual governador da Bahia, e Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais.

Outro grupo, integrado por Rui Falcão, presidente do PT, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, e Franklin Martins, da coordenação da campanha, acredita que Dilma deveria seguir na linha atual, defendendo a reforma política como escudo contra desvios e questionando as acusações feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.
O tema foi debatido nesta semana em reunião da cúpula de campanha petista. Por enquanto, prevalece a tese do segundo grupo… 
A presidente Dilma, segundo interlocutores, até gostaria de optar pela estratégia de admitir que houve erros na estatal e tentar se descolar do escândalo da Petrobras. Mas resiste, ainda, por acreditar que compraria briga com o PT na reta final da campanha.
…Segundo auxiliares da petista, o desgaste do governo só aumentará, se o PT e o Palácio do Planalto optarem apenas por uma postura reativa. Como na semana passada, em que negaram as irregularidades e atacaram a divulgação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro Youssef à Justiça.

Um interlocutor de Dilma disse que será um erro o PT ficar insistindo na tecla de que as declarações do ex-diretor e do doleiro são caluniosas. 

Segundo ele, os áudios divulgados e a informação de que Paulo Roberto Costa vai devolver R$ 70 milhões frutos de corrupção dão credibilidade a, no mínimo, parte importante das acusações contra o partido.

…O receio é que, nos próximos dias, surjam mais novidades do escândalo, com citação de envolvimento de assessores do governo e de aliados, o que deixaria a presidente em situação ainda mais difícil.

Pesquisas qualitativas mostram que já se cristalizou na opinião pública a visão de que existia, de fato, um esquema de corrupção dentro da Petrobras.
A cúpula petista, porém, não concorda com essa visão. Diz que o partido e o governo não podem ficar acuados diante das denúncias e que precisam se defender.

DEBATE DE CANDIDATOS-PRODUTO É A QUINTESSÊNCIA DA CHATICE

Certa vez, no auge de Hollywood, um grande escritor foi convidado a criar o roteiro de um filme. Como não estivesse familiarizado com a chamada sétima arte, pediu para os produtores lhe mostrarem uma fita que desse boa noção de sua tarefa. Foi, começou a assistir… e logo saiu correndo, horrorizado com a mediocridade do cinema comercial. 
É o que tenho vontade de fazer sempre que acompanho um debate eleitoral da era dos candidatos-produto, exaustivamente adestrados por uma legião de marqueteiros para darem as respostas que melhor cumpram a função de bajular eleitores, a partir das conclusões tiradas de toneladas de pesquisas qualitativas sobre as reações dos vários segmentos da população a cada tema. 
Que saudades dos tempos em que não havia pacote pronto nem staff todo-poderoso, em que ainda se desbravavam os caminhos e aconteciam situações realmente pitorescas, como estas:
  • quando Richard Nixon foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a barba por fazer. Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
  • quando um deputado dos mais obesos, querendo entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar, foi se arrastando pelo chão com seu corpanzil de urso, por baixo do ângulo captado pelas câmeras… sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores o ato de puxa-saquismo explícito;
  • quando Franco Montoro, aproveitando a vantagem de ser sua a última intervenção do debate, acusou Jânio Quadros de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), deixando o homem da vassoura à beira de um ataque de nervos, pois suas tentativas furibundas de retrucar eram bloqueadas pelo mediador;
    • quando o jornalista Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, deixando a impressão de que ele evitava admitir sua condição de ateu (muitos analistas acreditaram ser este o motivo da surpreendente virada de Jânio Quadros, na enésima hora);
    • quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. “Filhote da ditadura!”, repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: “Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!”;
    • quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era melhor que o do ricaço das Alagoas (já ouvi dizerem que se tratou de uma armadilha evitada: a espionagem do Collor teria obtido um recibo de compra de aparelho de som caro, constrangedor para Lula);
    • quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de expelido do poder, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: “Fale qualquer coisa aí!”. Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário, desprezando a chance da réplica: “Pode continuar!”.
    Hoje tudo é mais previsível, os escorregões são menos frequentes e os candidatos para cargos importantes estão bem escolados nas técnicas da embromation. O tédio impera, a chatice é insuportável.

    EXAUSTOS, AMBOS ENTOARAM 
    VÁRIAS VEZES A MESMA LADAINHA…

    No debate entre a presidenta Dilma Rousseff  e o senador Aécio Neves na Band, o que saiu do script foi a primeira ter dado uma ligeira travada (lembrou o filme 8 mile), recompondo-se depois de angustiantes segundos de branco; a exaustão física e mental que se notava em ambos, a ponto de entoarem várias vezes a mesma ladainha (Aécio invocando seu índice de aprovação quando deixou o governo de MG, Dilma aludindo ao Pronatec umas 30 vezes, como vitrola quebrada de outrora); pelo mesmo motivo, a falta de articulação que mostravam em alguns momentos, perdendo o fio da meada e enveredando, para disfarçar, por assuntos sem ligação nenhuma com o que estavam falando; os erros crassos de concordância que cometiam quando exaltavam as excelências… da educação!


    Pior mesmo foi o medo de chutar o balde, mesmo quando a verdade pegaria muito melhor do que as desculpas esfarrapadas.

    Ao invés de sustentar (e ninguém acreditar) que nada houve de errado na construção do aeroporto de Cláudio, Aécio poderia ter dito que o custo de R$ 13,4 milhões, ou R$ 17,9 milhões corrigidos, foi uma merreca na comparação, p. ex., com o propinoduto, em que um personagem do escalão intermediário do esquema mafioso admitiu um ganho ilícito de R$ 70 milhões (é quanto vai devolver aos cofres públicos, mas, se alguém acreditar que o Paulo Roberto Costa abocanhou só isto, pode passar na secretaria e retirar seu diploma de otário…).

    Quanto ao Pronatec, nenhum político ousará lembrar que as empresas, para disporem dos quadros técnicos que lhes são imprescindíveis, sempre os formaram por si mesmas quando o governo não investia nesta área. Então, a menina dos olhos da Dilma é um programa que transferiu para a União parte dos custos que os Senais da vida bancavam sozinhos. Os capitalistas agradecem. 

    E que dizer da insistência de Dilma em insinuar que quem não apoiou a CPMF, aquele famigerado imposto do cheque, foi um sabotador da Saúde? Contribuição introduzida emergencialmente e que foi sendo eternizada à base de subterfúgios, servia (como os pedágios das rodovias) para o Estado espertamente poupar verbas que eram desviadas/desperdiçadas alhures. Terminou da forma mais melancólica possível, com rejeição acachapante e sob suspiros aliviados dos cidadãos, os quais detestavam ser extorquidos por um tributo travestido em contribuição provisória.  

    O festival de escândalos que assola o País e as evidências gritantes de parasitismo e esbanjamentos na administração pública são evidências mais do que suficientes de que não faltariam verbas para a Educação, a Saúde, a humanização do transporte coletivo e outras prioridades verdadeiras, se os recursos existentes não fossem drenados pela politicalha. Afinal, a carga tributária brasileira é das mais elevadas e não pára de crescer, como se constata aqui.

    De resto, o debate foi parelho nas escaramuças entre ambos. No entanto, o Aécio levou a vantagem de ir ao encontro do que o homem comum está sentindo: a economia estagnou e a inflação voltou. Ele martelou isto ad nauseam, sem que a Dilma, coitada!, tivesse como retrucar de forma convincente. Contra fatos não há argumentos.

    Ainda não caiu, para a campanha da Dilma, a ficha de que o eleitorado não quer MAIS DO MESMO, Quer, isto sim, MAIS DO QUE O MESMO.

    Se a candidatura governista não conseguir convencê-lo de que a Dilma tem como ir além do que já foi, ele tentará avançar com o Aécio, por mais que os petistas gritem “cuidado com o tucano papão!”.

    AINDA SOBRE O AMARGOR E A ESPERANÇA

    Seu espectro agora é amplo, não apenas midiático…

    Como não acredito que as verdadeiras soluções para os dramas brasileiros possam ser oferecidas pelos partidos e candidatos da política oficial, além de avaliar as opções oferecidas ao eleitorado na eleição presidencial de 2014 como pouquíssimo alentadoras, tenho me limitado a defender algumas posturas mais consequentes e a apresentar contrapontos  às propostas dos principais candidatos. Ou seja, tento levantar discussões que considero mais importantes do que a eleição em si, aproveitando o interesse despertado pelo pleito. 

    Nem sempre sou bem sucedido, pois a forma primária e simplista da maioria dos internautas encarar as reflexões sobre política é atribuindo aos articulistas motivações menores, torcida por tal ou qual candidato. Colocada a questão nestes termos, eu verdadeiramente não estaria torcendo por ninguém, mas sim torcendo contra as principais candidaturas.
    Como meus textos costumam seguir na contramão das pregações e práticas petistas, os fanáticos pela estrela desbotada já tentaram me desqualificar com absurdos (o de que, depois de 46 anos lutando pela revolução, eu teria mudado de lado) ou psicologices (a de que eu estaria desnorteado pelo rancor, em razão da falta de solidariedade e de espírito de justiça por parte dos grãos petistas, que cruzam os braços diante da perseguição que as burocracias do Estado me movem na questão da minha indenização retroativa de vítima da ditadura).

    O segundo motivo faria algum sentido em se tratando de outra pessoa, mas os verdadeiros militantes revolucionários somos diferentes. Espelho-me na postura de Trotsky, o comandante operacional da revolução soviética de 1917 e o grande responsável por sua sobrevivência nos campos de batalha, que depois sofreria as piores injustiças. Nem mesmo seus entes queridos foram poupados. Ainda assim, ele se recusava a ser erigido em mártir, afirmando desconhecer qualquer “tragédia pessoal”. Ou seja, o desvirtuamento da revolução era uma tragédia coletiva que atingira a ele como a tantos outros que se mantiveram fiéis aos ideais bolcheviques.

    Aniquilação do inimigo é parte da cultura fascista, não da nossa.

    O fato certo é que eu estava plenamente sintonizado com o ideário petista ao aderir ao partido nos seus primórdios, mas nossos caminhos cada vez mais foram se distanciando. 
    Agora, p. ex., vejo a campanha dilmista insuflar desmedidamente o ódio e o medo, como se o único motivo para o eleitor reeleger a presidenta fossem as mazelas supostas ou reais de Aécio Neves e dos tucanos.
    Enquanto isto, muito mais perspicazes e profissionais, os opositores fazem uma campanha para cima e martelam o tempo todo que, aos ataques e agressões, respondem com metas e soluções.
    Os torcedores de esquerda, aqueles que abdicam do pensamento crítico e se tornam tão fanáticos quanto os devotos da Igreja Universal ou da Renascer, não só aplaudem tal postura execrável, quanto a praticam. Parecem ignorar que, assim, só sensibilizam e atraem os piores seres humanos. Satanizar o inimigo, desumanizando-o para transformá-lo no espantalho contra o qual os prosélitos se unem, não difere em nada do que a Ku Klux Klan fazia com os negros e Hitler com os judeus. 
    Então, ao deplorar tal linha de atuação, apenas estou sendo coerente com o que sempre preguei. E não vejo motivo nenhum para deixar de fazê-lo só porque do outro lado está o PT. Defendo os mesmos princípios em todas as situações e quaisquer que sejam os personagens do drama. Isto se chama coerência.
    Devemos personificar a esperança, não a vingança.

    Eis, p. ex., como me posicionei em agosto de 2011 sobre o assunto, num artigo apropriadamente intitulado O amargor e a esperança (acesse-o aqui), no qual: 1) questionava os internautas que defendiam a aplicação da lei de talião contra os criminosos; e 2) recriminava os esquerdistas selvagens que, em nome da realpolitik, se alinhavam com um dos ditadores mais sanguinários do planeta:

    No fundo, são dois exemplos de um mesmo comportamento: pessoas que abdicam de serem boas, justas, nobres e dignas. Preferem ser amargas, más, rancorosas e vingativas. Optam por jogar a civilização no lixo, apoiando a imposição da força bruta e abrindo as portas para a barbárie.

    Mas, nem a criminalidade será extinta com o extermínio dos bandidos (outros tomarão seu lugar, indefinidamente), nem a revolução mundial avançará um milímetro com a esquerda apoiando tiranos execráveis. Quem é guiado pelo amargor, apenas se coloca no mesmo plano do mal que combate, abdicando da superioridade moral e desqualificando-e para liderar o povo na busca de soluções reais.

    No caso dos esquerdistas desnorteados, eles esquecem que os podres poderes se sustentam exatamente na descrença dos homens quanto às possibilidades de mudar o mundo.

    Céticos, eles se tornam impotentes. Cabe a nós devolvermo-lhes as esperanças.

    Nunca teremos recursos materiais equiparáveis aos do capitalismo. Nosso verdadeiro trunfo é personificarmos tais esperanças — principalmente a de que a justiça social e a liberdade venham, enfim, a prevalecer. 

    …ou falamos o que faz sentido para os melhores seres humanos (os únicos que conseguiremos trazer para nosso lado no atual estágio da luta) ou continuaremos falando sozinhos, sem força política para sermos verdadeiramente influentes.

    É no que sempre acreditarei. Então, lamento imensamente que, no 2º turno da eleição presidencial, sejam os tucanos que apostem na esperança e seja o PT que instile o ódio. Isto poderá até servir para ganhar a eleição, mas não para reconquistar os idealistas e os justos, trazendo-os de volta para o nosso lado, como estavam, em peso, nos estertores da ditadura e alvorecer da Nova República.

    Nós carecemos, desesperadamente, desses quadros de qualidade superior, movidos por ideais e não por interesses. São o ponto de partida para começarmos a reconstruir a esquerda brasileira, depois de sua credibilidade ter atingido o fundo do poço.