propinoduto

DILMA SEGUE O CONSELHO DO BLOGUE: ADMITE CORRUPÇÃO NA PETROBRÁS E PROMETE "RESSARCIR TUDO E TODOS".


No post Propinoduto: Dilma deve fazer o jogo da verdade ou continuar tapando o sol com a peneira? (acesse aqui), eu reproduzi uma notícia da Folha de S. Paulo sobre os bastidores do PT, dando conta de que alguns grãos petistas aconselhavam a presidenta a admitir a ocorrência de práticas condenáveis na Petrobrás e outros, a manter a desconversa.

Apontei-lhe o bom caminho: “…agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira”.

E conclui com um bordão de minha autoria (por que não?): a transparência é revolucionária!

Registro, com satisfação, que desta vez a Dilma ficou com os mocinhos, botando os bandidos pra correr. Eis sua declaração deste sábado, 18:

Eu farei todo o meu possível para ressarcir o País. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve! Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos.

Bravíssimo! 

UM ESPECTRO RONDA O BRASIL

Este blogue tem, para mim, dupla função: 
  • há textos que publico aqui e também em vários outros espaços cativos de que disponho, além de difundir por e-mails, pois quero que tenham repercussão mais ampla; e
  • há textos que publico apenas aqui, como um tipo de conversa íntima com meu público mais constante.
No segundo caso está este post, na esperança de que permaneça no círculo de meus amigos e leitores de longa data. Os demais poderiam interpretar como terrorismo eleitoral, o que não é.
Quero apenas deixar registrado que me inquietam muito os rumos da sucessão presidencial. Pode vir coisa ruim demais por aí.
Na edição da veja que chegou às bancas neste sábado, a matéria de capa é exatamente a que previ. Desde que os delatores premiados começaram a abrir o bico, eu não tinha nenhuma dúvida de que, no penúltimo sábado antes do 2º turno, a revista faria estardalhaço com sua denúncia mais contundente.
O doleiro Alberto Yousself, diz a revista, acaba de entregar à Polícia Federal provas de que a campanha de 2010 de Dilma foi em parte financiada com dinheiro desviado da Petrobras.
Então, podemos ter a certeza de que, caso Dilma seja reeleita:

  • a oposição entrará em 2015 com um pedido de impeachment, pois o apurado na Operação Lava Jato é suficiente para o respaldar;
  • no ano que vem necessariamente começará um ajuste recessivo na economia, cuja intensidade e duração não é possível prevermos, mas fará, claro, aumentar a insatisfação popular.
A simultaneidade destes dois acontecimentos criará um caldo de cultura propício para golpe de estado. 
Convido os companheiros a refletirem sobre meu alerta, não com antolhos eleitoreiros, mas pensando mais longe. O perigo que nos ronda vai muito além desse duelo de baixarias que passa por ser eleição. E, repito, não podemos ser pegos desprevenidos como o fomos em 1964. 

PROPINODUTO: DILMA DEVE FAZER O JOGO DA VERDADE OU CONTINUAR TAPANDO O SOL COM A PENEIRA?

Como jornalista veterano, sinto-me muito frustrado por não contar atualmente com fontes que me passem informações de cocheira. Este é um privilégio de quem está na ativa e em veículos importantes, podendo, portanto, oferecer a contrapartida –ou seja, prestar favores jornalísticos a tais fontes. Toma lá, dá cá.

Então, só me resta disponibilizar para os leitores deste blogue as notícias sobre movimentações nos bastidores que encontro na mídia e me pareçam significativas, de antemão alertando que nem sempre os informantes são isentos, podendo ter induzido os repórteres a erros.

A notícia Ala do PT propõe que Dilma reconheça erros na Petrobras, da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, apresenta um quadro plausível da disputa que certamente está rolando nos círculos decisórios do partido. Se correto ou não, é impossível nós, que estamos do lado de fora, determinarmos.

Enfim, se non è vero, è ben trovato, diriam os italianões da Mooca e do Brás que eu conheci na minha meninice.

Dando-se crédito ao relato dos repórteres Valdo Cruz e Natuza Nery, agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira.

Hoje mais do que nunca, face ao que muitos esquerdistas se tornaram, a transparência é revolucionária! 

Eis o que há de mais interessante na notícia:
A cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff está dividida sobre a melhor estratégia para enfrentar o escândalo da Petrobras…
Um grupo avalia que a tática mais eficaz seria reconhecer que houve erros na gestão da estatal, insistir que os culpados devem pagar por eles e que a Justiça Federal dará a palavra final sobre a responsabilidade de cada um, buscando virar a página do escândalo.

Segundo a Folha apurou, são favoráveis a esta posição o marqueteiro da campanha João Santana, Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha, Jaques Wagner, atual governador da Bahia, e Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais.

Outro grupo, integrado por Rui Falcão, presidente do PT, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, e Franklin Martins, da coordenação da campanha, acredita que Dilma deveria seguir na linha atual, defendendo a reforma política como escudo contra desvios e questionando as acusações feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.
O tema foi debatido nesta semana em reunião da cúpula de campanha petista. Por enquanto, prevalece a tese do segundo grupo… 
A presidente Dilma, segundo interlocutores, até gostaria de optar pela estratégia de admitir que houve erros na estatal e tentar se descolar do escândalo da Petrobras. Mas resiste, ainda, por acreditar que compraria briga com o PT na reta final da campanha.
…Segundo auxiliares da petista, o desgaste do governo só aumentará, se o PT e o Palácio do Planalto optarem apenas por uma postura reativa. Como na semana passada, em que negaram as irregularidades e atacaram a divulgação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro Youssef à Justiça.

Um interlocutor de Dilma disse que será um erro o PT ficar insistindo na tecla de que as declarações do ex-diretor e do doleiro são caluniosas. 

Segundo ele, os áudios divulgados e a informação de que Paulo Roberto Costa vai devolver R$ 70 milhões frutos de corrupção dão credibilidade a, no mínimo, parte importante das acusações contra o partido.

…O receio é que, nos próximos dias, surjam mais novidades do escândalo, com citação de envolvimento de assessores do governo e de aliados, o que deixaria a presidente em situação ainda mais difícil.

Pesquisas qualitativas mostram que já se cristalizou na opinião pública a visão de que existia, de fato, um esquema de corrupção dentro da Petrobras.
A cúpula petista, porém, não concorda com essa visão. Diz que o partido e o governo não podem ficar acuados diante das denúncias e que precisam se defender.

DEBATE DE CANDIDATOS-PRODUTO É A QUINTESSÊNCIA DA CHATICE

Certa vez, no auge de Hollywood, um grande escritor foi convidado a criar o roteiro de um filme. Como não estivesse familiarizado com a chamada sétima arte, pediu para os produtores lhe mostrarem uma fita que desse boa noção de sua tarefa. Foi, começou a assistir… e logo saiu correndo, horrorizado com a mediocridade do cinema comercial. 
É o que tenho vontade de fazer sempre que acompanho um debate eleitoral da era dos candidatos-produto, exaustivamente adestrados por uma legião de marqueteiros para darem as respostas que melhor cumpram a função de bajular eleitores, a partir das conclusões tiradas de toneladas de pesquisas qualitativas sobre as reações dos vários segmentos da população a cada tema. 
Que saudades dos tempos em que não havia pacote pronto nem staff todo-poderoso, em que ainda se desbravavam os caminhos e aconteciam situações realmente pitorescas, como estas:
  • quando Richard Nixon foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a barba por fazer. Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
  • quando um deputado dos mais obesos, querendo entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar, foi se arrastando pelo chão com seu corpanzil de urso, por baixo do ângulo captado pelas câmeras… sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores o ato de puxa-saquismo explícito;
  • quando Franco Montoro, aproveitando a vantagem de ser sua a última intervenção do debate, acusou Jânio Quadros de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), deixando o homem da vassoura à beira de um ataque de nervos, pois suas tentativas furibundas de retrucar eram bloqueadas pelo mediador;
    • quando o jornalista Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, deixando a impressão de que ele evitava admitir sua condição de ateu (muitos analistas acreditaram ser este o motivo da surpreendente virada de Jânio Quadros, na enésima hora);
    • quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. “Filhote da ditadura!”, repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: “Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!”;
    • quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era melhor que o do ricaço das Alagoas (já ouvi dizerem que se tratou de uma armadilha evitada: a espionagem do Collor teria obtido um recibo de compra de aparelho de som caro, constrangedor para Lula);
    • quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de expelido do poder, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: “Fale qualquer coisa aí!”. Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário, desprezando a chance da réplica: “Pode continuar!”.
    Hoje tudo é mais previsível, os escorregões são menos frequentes e os candidatos para cargos importantes estão bem escolados nas técnicas da embromation. O tédio impera, a chatice é insuportável.

    EXAUSTOS, AMBOS ENTOARAM 
    VÁRIAS VEZES A MESMA LADAINHA…

    No debate entre a presidenta Dilma Rousseff  e o senador Aécio Neves na Band, o que saiu do script foi a primeira ter dado uma ligeira travada (lembrou o filme 8 mile), recompondo-se depois de angustiantes segundos de branco; a exaustão física e mental que se notava em ambos, a ponto de entoarem várias vezes a mesma ladainha (Aécio invocando seu índice de aprovação quando deixou o governo de MG, Dilma aludindo ao Pronatec umas 30 vezes, como vitrola quebrada de outrora); pelo mesmo motivo, a falta de articulação que mostravam em alguns momentos, perdendo o fio da meada e enveredando, para disfarçar, por assuntos sem ligação nenhuma com o que estavam falando; os erros crassos de concordância que cometiam quando exaltavam as excelências… da educação!


    Pior mesmo foi o medo de chutar o balde, mesmo quando a verdade pegaria muito melhor do que as desculpas esfarrapadas.

    Ao invés de sustentar (e ninguém acreditar) que nada houve de errado na construção do aeroporto de Cláudio, Aécio poderia ter dito que o custo de R$ 13,4 milhões, ou R$ 17,9 milhões corrigidos, foi uma merreca na comparação, p. ex., com o propinoduto, em que um personagem do escalão intermediário do esquema mafioso admitiu um ganho ilícito de R$ 70 milhões (é quanto vai devolver aos cofres públicos, mas, se alguém acreditar que o Paulo Roberto Costa abocanhou só isto, pode passar na secretaria e retirar seu diploma de otário…).

    Quanto ao Pronatec, nenhum político ousará lembrar que as empresas, para disporem dos quadros técnicos que lhes são imprescindíveis, sempre os formaram por si mesmas quando o governo não investia nesta área. Então, a menina dos olhos da Dilma é um programa que transferiu para a União parte dos custos que os Senais da vida bancavam sozinhos. Os capitalistas agradecem. 

    E que dizer da insistência de Dilma em insinuar que quem não apoiou a CPMF, aquele famigerado imposto do cheque, foi um sabotador da Saúde? Contribuição introduzida emergencialmente e que foi sendo eternizada à base de subterfúgios, servia (como os pedágios das rodovias) para o Estado espertamente poupar verbas que eram desviadas/desperdiçadas alhures. Terminou da forma mais melancólica possível, com rejeição acachapante e sob suspiros aliviados dos cidadãos, os quais detestavam ser extorquidos por um tributo travestido em contribuição provisória.  

    O festival de escândalos que assola o País e as evidências gritantes de parasitismo e esbanjamentos na administração pública são evidências mais do que suficientes de que não faltariam verbas para a Educação, a Saúde, a humanização do transporte coletivo e outras prioridades verdadeiras, se os recursos existentes não fossem drenados pela politicalha. Afinal, a carga tributária brasileira é das mais elevadas e não pára de crescer, como se constata aqui.

    De resto, o debate foi parelho nas escaramuças entre ambos. No entanto, o Aécio levou a vantagem de ir ao encontro do que o homem comum está sentindo: a economia estagnou e a inflação voltou. Ele martelou isto ad nauseam, sem que a Dilma, coitada!, tivesse como retrucar de forma convincente. Contra fatos não há argumentos.

    Ainda não caiu, para a campanha da Dilma, a ficha de que o eleitorado não quer MAIS DO MESMO, Quer, isto sim, MAIS DO QUE O MESMO.

    Se a candidatura governista não conseguir convencê-lo de que a Dilma tem como ir além do que já foi, ele tentará avançar com o Aécio, por mais que os petistas gritem “cuidado com o tucano papão!”.

    AINDA SOBRE O AMARGOR E A ESPERANÇA

    Seu espectro agora é amplo, não apenas midiático…

    Como não acredito que as verdadeiras soluções para os dramas brasileiros possam ser oferecidas pelos partidos e candidatos da política oficial, além de avaliar as opções oferecidas ao eleitorado na eleição presidencial de 2014 como pouquíssimo alentadoras, tenho me limitado a defender algumas posturas mais consequentes e a apresentar contrapontos  às propostas dos principais candidatos. Ou seja, tento levantar discussões que considero mais importantes do que a eleição em si, aproveitando o interesse despertado pelo pleito. 

    Nem sempre sou bem sucedido, pois a forma primária e simplista da maioria dos internautas encarar as reflexões sobre política é atribuindo aos articulistas motivações menores, torcida por tal ou qual candidato. Colocada a questão nestes termos, eu verdadeiramente não estaria torcendo por ninguém, mas sim torcendo contra as principais candidaturas.
    Como meus textos costumam seguir na contramão das pregações e práticas petistas, os fanáticos pela estrela desbotada já tentaram me desqualificar com absurdos (o de que, depois de 46 anos lutando pela revolução, eu teria mudado de lado) ou psicologices (a de que eu estaria desnorteado pelo rancor, em razão da falta de solidariedade e de espírito de justiça por parte dos grãos petistas, que cruzam os braços diante da perseguição que as burocracias do Estado me movem na questão da minha indenização retroativa de vítima da ditadura).

    O segundo motivo faria algum sentido em se tratando de outra pessoa, mas os verdadeiros militantes revolucionários somos diferentes. Espelho-me na postura de Trotsky, o comandante operacional da revolução soviética de 1917 e o grande responsável por sua sobrevivência nos campos de batalha, que depois sofreria as piores injustiças. Nem mesmo seus entes queridos foram poupados. Ainda assim, ele se recusava a ser erigido em mártir, afirmando desconhecer qualquer “tragédia pessoal”. Ou seja, o desvirtuamento da revolução era uma tragédia coletiva que atingira a ele como a tantos outros que se mantiveram fiéis aos ideais bolcheviques.

    Aniquilação do inimigo é parte da cultura fascista, não da nossa.

    O fato certo é que eu estava plenamente sintonizado com o ideário petista ao aderir ao partido nos seus primórdios, mas nossos caminhos cada vez mais foram se distanciando. 
    Agora, p. ex., vejo a campanha dilmista insuflar desmedidamente o ódio e o medo, como se o único motivo para o eleitor reeleger a presidenta fossem as mazelas supostas ou reais de Aécio Neves e dos tucanos.
    Enquanto isto, muito mais perspicazes e profissionais, os opositores fazem uma campanha para cima e martelam o tempo todo que, aos ataques e agressões, respondem com metas e soluções.
    Os torcedores de esquerda, aqueles que abdicam do pensamento crítico e se tornam tão fanáticos quanto os devotos da Igreja Universal ou da Renascer, não só aplaudem tal postura execrável, quanto a praticam. Parecem ignorar que, assim, só sensibilizam e atraem os piores seres humanos. Satanizar o inimigo, desumanizando-o para transformá-lo no espantalho contra o qual os prosélitos se unem, não difere em nada do que a Ku Klux Klan fazia com os negros e Hitler com os judeus. 
    Então, ao deplorar tal linha de atuação, apenas estou sendo coerente com o que sempre preguei. E não vejo motivo nenhum para deixar de fazê-lo só porque do outro lado está o PT. Defendo os mesmos princípios em todas as situações e quaisquer que sejam os personagens do drama. Isto se chama coerência.
    Devemos personificar a esperança, não a vingança.

    Eis, p. ex., como me posicionei em agosto de 2011 sobre o assunto, num artigo apropriadamente intitulado O amargor e a esperança (acesse-o aqui), no qual: 1) questionava os internautas que defendiam a aplicação da lei de talião contra os criminosos; e 2) recriminava os esquerdistas selvagens que, em nome da realpolitik, se alinhavam com um dos ditadores mais sanguinários do planeta:

    No fundo, são dois exemplos de um mesmo comportamento: pessoas que abdicam de serem boas, justas, nobres e dignas. Preferem ser amargas, más, rancorosas e vingativas. Optam por jogar a civilização no lixo, apoiando a imposição da força bruta e abrindo as portas para a barbárie.

    Mas, nem a criminalidade será extinta com o extermínio dos bandidos (outros tomarão seu lugar, indefinidamente), nem a revolução mundial avançará um milímetro com a esquerda apoiando tiranos execráveis. Quem é guiado pelo amargor, apenas se coloca no mesmo plano do mal que combate, abdicando da superioridade moral e desqualificando-e para liderar o povo na busca de soluções reais.

    No caso dos esquerdistas desnorteados, eles esquecem que os podres poderes se sustentam exatamente na descrença dos homens quanto às possibilidades de mudar o mundo.

    Céticos, eles se tornam impotentes. Cabe a nós devolvermo-lhes as esperanças.

    Nunca teremos recursos materiais equiparáveis aos do capitalismo. Nosso verdadeiro trunfo é personificarmos tais esperanças — principalmente a de que a justiça social e a liberdade venham, enfim, a prevalecer. 

    …ou falamos o que faz sentido para os melhores seres humanos (os únicos que conseguiremos trazer para nosso lado no atual estágio da luta) ou continuaremos falando sozinhos, sem força política para sermos verdadeiramente influentes.

    É no que sempre acreditarei. Então, lamento imensamente que, no 2º turno da eleição presidencial, sejam os tucanos que apostem na esperança e seja o PT que instile o ódio. Isto poderá até servir para ganhar a eleição, mas não para reconquistar os idealistas e os justos, trazendo-os de volta para o nosso lado, como estavam, em peso, nos estertores da ditadura e alvorecer da Nova República.

    Nós carecemos, desesperadamente, desses quadros de qualidade superior, movidos por ideais e não por interesses. São o ponto de partida para começarmos a reconstruir a esquerda brasileira, depois de sua credibilidade ter atingido o fundo do poço. 

    A BOLSA DISPAROU. POR QUÊ?

    Bolsas de valores são letais: morre-se de enfarte na alta…
    Leio no Brasil 247 que a Bolsa de Valores de São Paulo teve nesta 2ª feira (13) sua maior alta nos últimos três anos, 4,78%, puxada pelas ações da Petrobrás, que registraram valorização de mais de 10%. Segundo o jornal eletrônico, a Bovespa estaria “comemorando” as boas notícias para a campanha de Aécio surgidas nos últimos dias.
    Na verdade, quem participa do grande cassino capitalista não está nem aí para ideologias e eleições, o negócio dessa gente é grana. Então, o que deve ter ocorrido é o seguinte: tais profissionais, com seus múltiplos acessos ao que ainda não foi noticiado para o público em geral, receberam informações que lhes deram certeza da vitória de Aécio Neves.
    …e de depressão quando elas quebram.
    Ora, como as ações da Petrobrás despencaram ultimamente em função do noticiário adverso, adquiri-las agora será um ótimo negócio caso elas se valorizem adiante. E quem sai na frente, pegando os preços lá embaixo, é quem ganhará mais.
    Se vitorioso, evidentemente Aécio saneará a Petrobrás, para servir como um cartão de visita do seu governo. Sou vivido demais para crer que não existirão maracutaias, mas a empresa cujo aparelhamento mais desgastou o governo petista na reta final da campanha deverá se tornar território proibido para mutretas, pelo menos durante algum tempo. 
    Então, o que está por trás da alta inesperada da Bovespa é a convicção dos especuladores de que a eleição já está decidida e de que investir na Petrobrás voltará a ser um bom negócio.  E não algum plano mirabolante e mefistofélico para influenciar o pleito.
    No que me baseio para fazer esta interpretação? Nos três anos que, muito a contragosto, fui responsável por um jornal semanal da associação das corretoras de valores. Detestava as pessoas, o ambiente e os assuntos, mas procurei extrair algo útil da experiência: inteirar-me sobre como funciona o mercado de capitais. 

    Afinal, quanto maior o conhecimento que tivermos do inimigo, mais eficientes seremos no combate a ele.

    FIM DOS NEGACEIOS: MARINA SOBE AO ALTAR COM AÉCIO. SERÁ O XEQUE-MATE?

    Este foi o previsível desfecho… 
    Depois de fazer suspense por três dias, Marina Silva acaba de declarar apoio formal ao candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves.
    Como a maioria dos seus eleitores já ia pelo mesmo caminho, não me parece que o quadro tenha se alterado significativamente.
    Se a política tem alguma lógica, e eu penso que tenha, Aécio marcha para a vitória. Quem acompanha o meu trabalho, sabe, contudo, que a minha preferência era outra. 
    Há muito duvidava das chances de reeleição de Dilma, prevendo que uma candidata fraca como ela sucumbiria ao mau desempenho da economia brasileira nos últimos anos e ao desgaste natural do exercício prolongado do poder pelo PT (mensalão e propinoduto inclusos). 
    Com Lula, a conversa talvez fosse outra. Dilma nem de longe possui carisma comparável.
    O vendaval Marina me animou. Por um golpe do destino, o PSDB poderia ficar fora do 2º turno, salvando-nos de uma vitória retumbante da direita,
    …de uma decisão desastrosa…
    Quando a acriana falava em aproveitar os melhores quadros dos vários partidos, era claro para mim que alguns petistas ilustres integrariam o seu governo. Gente como o Eduardo Suplicy, que acaba de perder a vaga no Senado não por ser malquisto pelo eleitorado, mas por ter carregado todo o peso da rejeição paulista ao PT, enquanto, paradoxalmente, o partido-urso  o abandonava à própria sorte. 
    E, eleita pelo pequeno PSB, ela dificilmente faria um governo que a credenciasse à reeleição –além de rejeitar enfaticamente tal possibilidade. Ademais, pode até ser lucro não estar no poder quando se aplicarão os remédios mais amargos na economia. Ter pilotado recessão é veneno nas urnas.
    Que a meramente reformista Dilma fosse substituída pela meramente reformista Marina não seria, portanto, nenhuma catástrofe. E o PT teria tudo para voltar ao Palácio do Planalto em 2018, com seu astro maior.
    Mas, os gênios do partido foram para o tudo ou nada, bisonhamente, temendo mais a história de vida de Marina do que a habilidade política bem superior de Aécio Neves, o apoio muito mais decidido que o poder econômico necessariamente concederia a quem de fato o representa, o impacto que as delações premiadas relativas ao aparelhamento da Petrobrás teriam na opinião pública (só ingênuos foram surpreendidos pelos vazamentos para a grande imprensa nos momentos mais cruciais da campanha!), etc.

    Ao que tudo indica, a infame satanização de Marina só haverá servido para transformar uma derrota parcial nas mãos de uma adversária em derrota avassaladora nas asas do pior inimigo. Mágica besta está aí.

    …dos aprendizes de feiticeiros do PT.
    Voltar à oposição, contudo, poderá fazer muito bem ao PT, se ele se der conta de que sua desgraça se terá devido ao abandono das bandeiras históricas que o diferenciavam dos demais partidos, seja no campo da justiça social, seja no da ética.

    A volta às origens não é impossível, embora já tenha dilapidado substancial parcela de capital político acumulado nas saudosas jornadas do ABC, na superação da ditadura e nos tempos esperançosos do Lula-lá.

    A refundação será a opção que lhe vai restar, se não quiser decair cada vez mais, até se tornar um novo PMDB, tão bem sucedido na fisiologia mais rasteira quanto irrelevante como força decisória e transformadora do País. 

    A DIREITA JÁ ESTÁ COGITANDO IMPEACHMENT E GOLPE DE ESTADO?

    Há internautas que querem encontrar, em todos e quaisquer posts por eles lidos, apenas a reiteração de suas opiniões e mais munição propagandística para fazerem a cabeça alheia. 
    Então, cada vez que eu aponto aspectos diferentes de questões tratadas com simplismo e tendenciosidade nas redes sociais, hostilizam-me como a um herege. E, quando eu lanço um alerta a respeito de algo que quero evitar, eles, em seu assustador primarismo, acreditam que eu esteja torcendo para que tal coisa aconteça. É de desanimar.
    Por que minhas análises costumam ser bem diferentes do ramerrão? Por vários motivos, mas vou citar os principais:
    • aos 18 anos, como combatente de uma das principais organizações de resistência à ditadura militar, fui incumbido de criar e chefiar o primeiro serviço de Inteligência da guerrilha brasileira. Até então, como qualquer leitor comum, eu buscava na imprensa apenas as informações, interpretações e opiniões que coincidiam com meus pontos-de-vista. Para bem cumprir a minha nova missão, tive de aprender a acompanhar todo o noticiário e, mesmo nos veículos reacionários por excelência, garimpar informações úteis. Ou seja, a ler criticamente tais veículos e filtrar aquilo que interessava à VPR;
    • depois, em 31 anos de exercício do jornalismo profissional, continuei aprimorando-me na arte de entender o inimigo para melhor o combater.
    Então, acho hilário comentaristas tentarem me desqualificar porque tenho a Folha de S. Paulo como uma das minhas principais fontes de informação. Ora, o que, a partir dela, consigo captar dos bastidores políticos é de valor inestimável para mim.
    E, longe de o jornal da ditabranda cooptar-me para suas posições, sou um dos cidadãos que melhor o questiona, que mais vezes dele arrancou retratações e que sistematicamente tem seus direitos como leitor e como personagem histórico escamoteados pela Redação e pelos sucessivos ombudsmans.

    Da mesma forma, leio atentamente o Reinaldo Azevedo e um sem-número de vezes fiz artigos devastadores rebatendo seus textos, sem que ele jamais ousasse responder. 

    P. ex., o RA acaba de qualificar a VAR-Palmares de terrorista, repetindo a falácia do Ternuma e dos sites que abrigam os remanescentes daqueles que foram os verdadeiros e únicos terroristas dos anos de chumbo no Brasil: os terroristas de estado. Quem pega em armas contra ditadores (e isto é reconhecido desde a Grécia antiga!), nada mais faz do que resistir à tirania. 
    É como a ONU, o Direito dos povos civilizados e todos os cidadãos conscientes encaram a questão. O que RA e os reaças em geral repetem à exaustão não passou de uma jogada propagandística arquitetada pelos serviços de guerra psicológica das Forças Armadas no auge do pior totalitarismo que o Brasil já conheceu. Era só pra enganar trouxas; e há raposões que, repetindo tal infâmia, continuam enganando trouxas até hoje.
    Infelizmente, o mestre da propaganda enganosa da direita às vezes está certo em sua refutações da propaganda enganosa petista. Considero vergonhoso que os do nosso lado apelem para a demagogia mais rasteira e mais facilmente refutável, como a afirmação, tantas vezes repetidas por Dilma Rousseff, de que FHC teria quebrado o Brasil três vezes.

    Talvez por me irritar profundamente a maneira como a presidenta se ufana de haver botado as contas com o FMI em dia –sempre preferi a posição do Brizola, de confrontar o principal cão de guarda dos interesses capitalistas–, confesso que não havia, até agora, atentado para este aspecto. 

    Mas, como me interessa conhecer sempre a verdade, jamais me alinhando com mentiras amigas, fiz uma busca virtual e acabei constatando que o Brasil quebrou (entrou em moratória) apenas uma vez, sob Sarney; e que pedidos de socorro financeiro ao FMI não equivalem a quebras. Este artigo esclarece bem a questão.
    Sei que pouco ou nada adiantará eu haver apontado aqui mais esta forçação de barra panfletária, assim como devo ter sido o primeiro a desmascarar o jogo sujo de apresentarem uma herdeira como banqueira, embora ela jamais tivesse exercido tal atividade. E estou consciente de que poucos esquerdistas da atualidade dão à verdade e à transparência a importância que eu dou. [Aliás, também aos direitos humanos, para meu enorme pesar. Será que as novas gerações precisarão sofrer na carne as consequências da privação dos DH, como nós sofremos, para passarem a conferir-lhes o peso devido?!]
    Se a única opção para eu permanecer na esquerda fosse coonestar falsidades, eu preferiria passar o resto dos meus dias numa ilha deserta. Meus paradigmas jamais foram Goebbels ou Maquiavel, mas sim Marx, Proudhon, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Gramsci e que tais.

    Para finalizar, eis um trecho de artigo do RA que não deveria ser ignorado como foi, nem tido tão-somente como mais do mesmo besteirol de sempre:

    Prestem atenção! Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef mal começaram a falar. A depender do rumo que as coisas tomem e do resultado das urnas, o país voltará a flertar, no próximo quadriênio, com o impeachment, somando, então, a crise política a uma economia combalida.

    A pergunta é: trata-se apenas de uma conjetura do RA ou, com seus óbvios acessos a fontes direitistas, ele está antecipando qual será a cartada seguinte, já decidida por nossos inimigos? 
    Enfim, dependendo do resultado de 26 de outubro, teremos de estar muito atentos para a possibilidade de que logo seja apresentado um pedido de impeachment da Dilma; e de que em seguida, aproveitando a conjugação das crises econômica e política, os suspeitos habituais façam uma tentativa golpista. 
    O que não podemos é ser novamente surpreendidos sem nenhum esquema preparado para reagirmos, como o fomos em 1964. Aliás, este é um calo que me dói muito, pois a minha geração depois se imolaria como consequência da leviandade dos que, subestimando a quartelada anunciada, permitiram que os militares os escorraçassem do poder com um piparote.

    O PT ESQUECEU AS LIÇÕES DO VELHO BARBUDO E PODE NÃO PASSAR DE ANO…

    Várias vezes já bati na tecla de que os companheiros do PT parecem ter esquecido tudo que aprenderam no início da caminhada, quando a familiaridade com os clássicos do marxismo era, praticamente, uma condição sine qua non para a militância esquerdista.
    Isto é algo que não consigo engolir, em termos não apenas racionais, mas também emocionais.
    P. ex., continuo encarando a prosperidade escandalosa dos bancos como sintoma do fenômeno que Lênin dissecou em Imperialismo, a fase superior do capitalismo; o predomínio da oligarquia financeira sobre os setores produtivos caracterizava, segundo ele, a passagem do capitalismo para seu estágio terminal, “parasitário, ou em estado de decomposição”. 
    Então jamais me passou pela garganta estar vendo, desde 2003, o Bradesco e o Itaú a anunciarem mês a mês seus maiores lucros líquidos de todos os tempos. Soou, aliás, anedótico o PT tentar associar Marina Silva aos bancos por meio de uma falsidade (herdeira nunca foi sinônimo de banqueira) quando jamais os interesses dos ditos cujos estiveram tão bem servidos quanto nos três governos petistas.
    O MENSALÃO E O PROPINODUTO
    Desde os idos de 2005, quando surgiram as primeiras denúncias do mensalão, nunca deixei de pensar com meus botões na velha polêmica entre os utilitaristas e os dialéticos. 
    Os primeiros, acreditando que os fins justificassem os meios. Os segundos, contrapondo que há uma interação entre ambos, de forma que quem adota meios sórdidos para atingir um fim teoricamente nobre, acaba tornando sórdido também o seu grande objetivo.

    Exemplificando: Stalin matava sistematicamente em nome do socialismo, mas seu socialismo, com isto, deixou de ser o descrito por Marx (a penúltima etapa da marcha para o comunismo), tornando-se, isto sim, genocida e totalitário. A quantidade de sangue derramado determinava uma mudança na qualidade do regime que se construía.

    Então, nunca duvidando de que os petistas recorreram às práticas nauseabundas da política brasileira para garantirem a governabilidade e não para proveito pessoal, ainda assim eu via como uma heresia o que fizeram. 
    1988: O OVO DA SERPENTE.
    O digno PT Venceslau…
    Aliás, orgulho-me muito de haver sido um dos poucos que, em 1988, tentaram evitar o pior, assumindo publicamente a posição correta quando o dilema entre os princípios elevados e a politicalha rasteira pela primeira vez foi colocado dramaticamente para o partido.

    Tratou-se de um momento de decisão. Seu péssimo desfecho escancarou as portas para os mensalões e propinodutos que adiante destruiriam a imagem de superioridade moral do PT. Vale a pena lembrar como isto aconteceu.

    Ex-militante do movimento universitário e antigo combatente da ALN, o economista Paulo de Tarso Venceslau foi a única voz no partido a se rebelar contra o primeiro grande esquema de desvio de recursos públicos para financiamento partidário, por meio de uma firma chamada CPEM – Consultoria para Empresas e Municípios.
    Tendo sido secretário das finanças de duas prefeituras petistas no interior paulista, em ambas ele resistira às pressões, seja para contratar a CPEM, seja para pagar-lhe valores superestimados pelos serviços prestados, acabando por ser exonerado da última delas, a de São José dos Campos.
    Depois de dois anos de denúncias infrutíferas aos dirigentes máximos do PT, Venceslau tornou público o favorecimento escuso à CEPM em corajosa entrevista ao Jornal da Tarde.
    e o inqualificável Teixeira.
    Como resposta ao escândalo, o partido submeteu o assunto a uma Comissão de Ética presidida por Hélio Bicudo, cuja salomônica decisão foi a de que Venceslau deveria ser expulso por haver vazado um assunto interno para a imprensa burguesa; e o empresário Roberto Teixeira, da CPEM, por ter pilotado um mais do que evidente (e evidenciado no relatório final da Comissão) esquema de corrupção, bem ao estilo daqueles que depois celebrizariam Marcos Valério e Paulo Roberto Costa. 
    O Lula, que Venceslau apontou como responsável pela montagem de tal esquema e maior beneficiário (seria graças a tal dinheiro sujo que sua tendência teria mantido a supremacia no partido), ameaçou sair do PT juntamente com Teixeira –que, além de tudo, era seu compadre e lhe fornecia um apartamento de cobertura em São Bernardo para morar de graça.
    Face ao risco de o partido perder sua maior estrela, a direção estadual decidiu desconsiderar o parecer da Comissão de Ética, expulsando somente Venceslau. Foi o instante em que se assumiu como um partido igual aos outros, capaz até de sacrificar um militante honesto (e revolucionário!!!) para preservar uma maçã podre. 
    Segundo Venceslau, o tal Teixeira havia sido, inclusive, “torturador do delegado Fleury”. E em 2006, quando era advogado da Brasil Telecom e foi convocado para depor na CPI dos Bingos, admitiu “conhecer” Daniel Dantas, dizendo-se impedido de dar mais detalhes por haver cláusula de confidencialidade
    Ao contrário do que os petistas querem nos fazer crer, no caso deles o  ovo da serpente  não foi o mensalão mineiro, mas sim as maracutaias da CPEM. E eu cantei a bola de que as consequências do precedente então aberto seriam terríveis. Foram. Há nove anos corroem as entranhas do PT.
    A NOVA CLASSE MÉDIA E OS GROTÕES
    Dilma Rousseff, à luz da tradição marxista, viajou feio na maionese ao enaltecer recentemente a criação de uma nova classe média nos governos petistas. Afora ser extremamente discutível a pretensão de que cidadãos com renda mensal a partir de R$ 291 já pertençam à dita cuja, Marx jamais aplaudiria o inchaço dos estratos intermediários entre a burguesia e o proletariado, até por tenderem a quase sempre alinharem-se com os exploradores (que almejam ser) contra os explorados (dos quais tentam, a todo custo, se distanciarem). 
    É o que talvez aconteça agora: os que tiveram uma pequena melhora de vida nos dois primeiros governos petistas parecem estar migrando para o lado adversário por quererem mais, sem que Dilma os tenha conseguido atender. 
    De resto, o velho barbudo sonhava é com a extinção das classes, fronteiras e todas as barreiras artificiais antepostas à realização universal e plena dos seres humanos no reino da liberdade, para além da necessidade.
    Finalmente, se os grãos petistas falam com sinceridade ao regozijarem-se pelo bom desempenho eleitoral nas regiões menos pujantes do País, esqueceram o que, para Marx, era um chamado óbvio ululante: sob o capitalismo, são os polos economicamente mais avançados que determinam para onde toda a sociedade irá, e não o contrário. Quanto mais próximo o PT estiver dos grotões, mais estará se aproximando da irrelevância. Não é pra rir, é pra chorar.

    DILMA IGNORA QUE A FUNÇÃO DA IMPRENSA É, SIM, FAZER INVESTIGAÇÃO!

    Não reconheço na revista veja, nem em nenhum outro órgão de imprensa o status que tem a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo. Não é função da imprensa fazer investigação.
    O disparate acima pegaria mal até na boca de um subcarimbador interino. Quando provém de uma presidenta da República, é simplesmente estarrecedor.
    Jamais aplaudirei as armações ilimitadas da imprensa golpista para manipular eleições, estimular prisões, assassinar reputações, etc. O vazamento de supostas acusações feitas por Paulo Roberto Costa em seu depoimento de delator premiado à Polícia Federal foi altamente negativo, sob todos os aspectos. 
    Ainda mais por não termos como aquilatar se pecadilhos estão sendo colocados no mesmo plano de pecados mortais, se quem está sendo denunciado é o que teria cometido delitos mais graves, se quem está sendo poupado não os cometeu também, etc. As possibilidades de manipulação são infinitas.
    Bernstein e Woodward erraram ao “fazer investigação”?
    Mas, enquanto governos mentirem desbragada e desavergonhadamente como fazem na atualidade, a imprensa tem, sim, a função de fazer investigação, tentando obter informações que deveriam estar disponíveis para o cidadão comum, mas não estão.

    Será que a presidenta apagou da memória a enorme contribuição dada pela imprensa na investigação dos crimes da ditadura militar? Ousaria a Dilma afirmar que, nesses episódios, a imprensa estava errada em tentar averiguar o que realmente ocorrera e a Polícia Federal, o Ministério Público e o STF não conseguiam ou não queriam esclarecer? 
    E o Caso Watergate? E o esquema de espionagem exposto pelo Wikileaks, atingindo até a própria presidenta, não deveria ter sido investigado por quem não estava oficialmente autorizado a o fazer?
    Não, Dilma, a luta pela transparência continuará sendo vital enquanto não extirparmos os abusos de poder por parte das autoridades de todos os escalões. E nada indica que estejamos próximos deste objetivo.
    Até lá, mais vale que cada um procure cumprir o melhor que puder seu papel: 
    • a imprensa, tentando descobrir o que os governos preferem manter em segredo; e
    • os governos, tentando evitar que seus segredos vazem. 
    Quando a imprensa agir de forma irresponsável, prejudicando inquéritos, injustiçando personagens, fabricando booms, derrubando cotações com base em falsidades, etc., há caminhos legais para que os culpados sejam punidos. O que não se pode é pretender controlar a imprensa como um todo, não reconhecendo à veja e a “nenhum outro órgão de imprensa” o direito de investigar, por conta própria e com as ferramentas do jornalismo, o que estiver sendo investigado noutra ótica pela PF, os promotores e o STF. 
    Uma das facetas mais assustadoras de Dilma é sua incapacidade de refletir sobre tais questões com uma visão abrangente. Como os mais tacanhos torcedores de futebol, ela só leva em conta se o seu time foi prejudicado ou beneficiado. Deveria ter aprendido há muito que precisamos sempre buscar o equilíbrio, criando e aplicando regras satisfatórias em todos os (ou, pelo menos, na maioria dos) casos, não as que melhor convenham a nossos interesses específicos num determinado caso. 
    Muitos companheiros poderiam ter sido salvos da morte e de suplícios dantescos caso a imprensa não estivesse sendo censurada e intimidada pela ditadura militar. E, mesmo sob o pior terrorismo de estado que o Brasil já conheceu, houve bravos jornalistas que correram o risco de investigar o que aqueles governos queriam manter sob sigilo extremo e eterno. 
    Por mais que deploremos as práticas jornalísticas da veja, nós, os veteranos da resistência à ditadura, somos os últimos de quem se possam aceitar declarações autoritárias como a que Dilma deu. Terá esquecido tão completamente tudo que viveu e sofreu?

    P.S.: dois dias depois, a presidenta voltou ao assunto, conforme notícia de O Estado de S. Paulo (a íntegra pode ser acessada aqui): 

    Segundo Dilma, o que ela quis dizer é que ‘o jornalismo investigativo pode até fornecer elementos’, mas quem tem de produzir a prova judicial é a investigação oficial, feita pela Polícia Federal e Ministério Público. 

    ‘Ela [investigação oficial] tem de fazer a prova porque se ela não fizer a prova, você não consegue condenar ninguém. Assim é o processo’, justificou a presidente Dilma…

    A versão de Dilma está publicada. Se era isto mesmo que ela tinha em mente, nada a objetar, salvo quanto à falta de clareza na fala anterior. 

    Se não, pelo menos reposicionou como deveria a questão. Antes assim. O pior seria insistir no erro.