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Charles De Gaulle
O BLOGUE ORGULHOSAMENTE APRESENTA UM FILME SOBRE A COLÔNIA CECÍLIA
- a contribuição desigual de citadinos e camponeses, pois a produtividade dos primeiros era inferior. Deveriam receber a mesma fração dos frutos do trabalho, conforme os ideais igualitários? Isto não significaria uma espécie de proletarização dos que produziam mais por estarem acostumados a lidar com a terra? De outra parte, se os lavradores fossem melhor aquinhoados do que os outros, não estaria sendo reproduzida a escala de valores da sociedade burguesa? Inexistia uma solução que contentasse a todos.
- a dificuldade de lidarem, no dia a dia, com o conceito do amor livre, uma novidade que incomodava principalmente as colonas de origem camponesa;
- a absoluta falta de seriedade do Estado brasileiro, que já era patético décadas antes de De Gaulle o haver constatado. O imperador Pedro II, atendendo a pedido do músico Carlos Gomes, doou as terras para a instalação da Cecília, mas, proclamada a República, o seu ato foi sumariamente revogado e os colonos tiveram de pagar pelas terras com parte de sua colheita e trabalhando sem remuneração em obras do governo;
- a hostilidade dos moradores da região (por sentirem-se prejudicados pela concorrência) e de uma vizinha comunidade polonesa, católica e conservadora;
- as fases de escassez e de fome, com a consequente ocorrência de doenças decorrentes da desnutrição (problemas passageiros, que, contudo, reforçaram a tendência ao egoísmo por parte dos menos convictos dos ideais anarquistas, gerando nocivas divisões);
- a tentativa do governo de recrutar os colonos (italianos!!!) para combaterem a Revolução Federalista, o que, inclusive, contrariava seus ideais, pois simpatizavam com os revoltosos.
É o que o filme mostra, de forma dramatizada e com evidente simpatia pela causa.
Vale destacar que o elenco, cuja única cara familiar ao público brasileiro é a do ótimo Vittorio Mezzogiorno (No coração da montanha, O processo do desejo, Três irmãos), deu perfeita conta do recado.
Particularmente, eu preferiria uma abordagem menos convencional -como, p. ex., a que o cineasta suíço Alain Tanner deu aos ideais de 1968 no seu extraordinário Jonas, que terá 25 anos no ano 2000.
DEPOIS DA ‘GUERRA DA LAGOSTA’, TEREMOS A ‘GUERRA DA CAMISINHA’?
Eis a principal lição a tirarmos do Caso WikiLeaks (pois é disto que se trata): as forças reacionárias perderam o último resquício de compostura e estão utilizando desavergonhadamente sua indústria cultural para impingir aos cidadãos as lorotas mais inverossímeis.
Querem retaliar Julian Assange por ter divulgado cerca de 250 mil documentos secretos estadunidenses, comprovando irrefutavelmente que os EUA cometem atos ilegais e abomináveis em suas intervenções para mudar governos de nações soberanas e nas caçadas a supostos terroristas.
O responsável pelo vazamento de tais evidências de crimes –que, estes sim, deveriam estar sendo apurados para efeitos penais–, um heróico soldado e analista de inteligência do exército dos EUA chamado Bradley Manning, é submetido a rigores extremos em prisões militares.
Numa covarde demonstração do seu poder de esmagar os desafetos, os EUA há mais de dois anos estão destruindo Manning psicologicamente.
E foi para submeter Assange ao mesmo suplício que armaram uma farsa simplesmente ridícula na Suécia, no sentido de que o porta-voz do WikiLeaks ficasse detido naquele país –o qual, cumprindo seu papel no script, aceitaria em seguida entregá-lo aos Estados Unidos, para responder a acusações bem mais graves (espionagem e que tais).
As bombásticas acusações de estupro e crime sexual se reduzem ao fato de ele ter mantido relações consentidas com duas mulheres, a camisinha haver-se rompido e Assange (segundo elas) insistido em completar o ato sem preservativo. Nem sequer utilizou a violência para impor sua vontade, já que a fulana não foi agredida.
Se episódios deste tipo fossem levados a ferro e fogo, boa parte da população masculina mundial estaria encarcerada.
E é pra lá de sintomático o fato de uma das denunciantes ter todo o perfil de tarefeira da espionagem estadunidense: Ana Ardin é cubana, anticastrista e trabalhou para ONGs financiadas pela CIA.
Mais: se Assange fosse apenas um cavalheiro que prefere transar sem camisinha o Reino Unido e a Suécia fariam tamanho reboliço e se empenhariam tanto em obter sua cabeça? Nem a pau, Juvenal.
Os britânicos, simplesmente, ameaçaram cometer um ato de guerra contra o Equador, ao comunicar-lhe que cogitavam invadir a embaixada equatoriana para sequestrar Assange. Como as embaixadas são extensões do território do país, isto equivaleria a uma invasão do Equador. É crível que fossem tão longe por uma besteirinha de alcova?
Fez-me lembrar de uma desavença entre o Brasil e a França, meio século atrás, sobre a pesca em larga escala de lagostas na plataforma continental brasileira (mais detalhes aqui).
O deixa disso! acabou prevalecendo, mas o patético da chamada guerra da lagosta municiou fartamente os humoristas. A melhor gozação foi esta paródia, de autoria desconhecida, da marchinha carnavalesca “Cachaça não é água”:
“Você pensa que lagosta é peixe?
Lagosta não é peixe, não!
Peixe é bicho que nada,
crustáceo não nada, não!
Pode faltar tudo ao brasileiro:
arroz, feijão e pão.
Mas, a lagosta é nossa,
De Gaulle não bota a mão!
Pode mandar vaso de guerra,
disto até acho graça:
por causa da lagosta,
até eu vou sentar praça!”
GRANDES NOMES DA HISTÓRIA
Tiradentes: assumiu toda a culpa e isentou os outros conspiradores de responsabilidades pela Inconfidência Mineira, afirmando que “se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria para salvar as deles”
General Charles Gordon: era uma lenda viva no Oriente quando decidiu permanecer em Khartoum, cercada pelos fanáticos guerreiros do Mahdi, na esperança de que os britânicos, intervindo para salvar sua vida, evitassem o massacre da população. A cidade caiu e ele morreu.
Presidente Getúlio Vargas: na iminência de sofrer impeachment, respondeu com o suicídio e uma dramática carta-testamento que motivou as forças populares a reagirem, impedindo a tomada do poder pelos conspiradores direitistas.
Presidente Charles De Gaulle: fazia questão de, durante os atentados que sofria dos terroristas da OAS (inconformados com a retirada dos colonialistas franceses da Argélia), mostrar total indiferença às balas que zuniam a seu redor.
Comandante Joaquim Câmara Ferreira: barbaramente torturado durante a ditadura varguista, garantiu que isto nunca se repetiria. Preso no regime militar, atracou-se com os torturadores, confrontando-os vigorosamente até forçar um ataque cardíaco.
Companheiro Presidente Salvador Allende: recusou a oferta dos golpistas de Pinochet, que lhe permitiriam sair do Chile, num avião, com os seguidores que escolhesse. Falou ao povo pela rádio, despedindo-se e manifestando sua confiança num destino socialista. E deu cabo da vida.
Bobby Sands: militante do Exército Repúblicano Irlandês (IRA) que morreu após sustentar uma greve de fome por 66 dias contra o jugo inglês.
José Serra: em 2010, interrompeu sua campanha presidencial na reta final, para recuperar-se do terrível trauma que sofreu ao ser atingido por uma bolinha de papel e um rolinho de fita crepe.