Charles De Gaulle

O CHILE SAIU DA DITADURA PELA PORTA DA FRENTE. NÓS, PELOS FUND(ILH)OS.

No (d. Pablo Larrain, 2012) é um grande filme. Mas, nos deixa um gosto amargo na boca.
É que mostra a saída de uma ditadura como deve ser: pela porta da frente, sem acordos podres. 
Infelizmente, a lição chegou cedo tarde demais para nós. Aqui, os acordos podres já haviam feito da redemocratização um embuste, a tal ponto que até hoje não acabamos de remover os entulhos autoritários (como a Lei da Anistia e a militarização do policiamento).
No mostra o plebiscito com que o ditador Augusto Pinochet pretendeu receber um voto de confiança do povo chileno em 1988 e os abnegados esforços do publicitário (Gael García Bernal) que, apesar da precariedade, estruturou a vitoriosa campanha do não!.
O gorilão era ruim de História. Deveria saber que Charles De Gaulle, com todo seu prestígio de herói da libertação francesa, em 1969 resolveu conferir caráter plebiscitário a um referendo sobre a reforma do Senado e a regionalização. Danou-se. E, como não lhe faltava dignidade pessoal, cumpriu a palavra, afastando-se do poder e da política.
Também Pinochet acabou sendo botinado pelos eleitores. Saiu do noticiário político e entrou no policial. Os chilenos devem nos considerar uns pobres coitados.
Por aqui, o equivalente ao plebiscito que derrubou a ditadura andina foram as diretas-já. Só que a palavra final, infelizmente, não cabia aos eleitores, mas sim à Câmara Federal.
Aí entrou em cena o profissional (como ele qualificou a si próprio) Tancredo Neves, um político tão carismático quanto um poste, que certamente seria massacrado nas urnas por Leonel Brizola.
Ciente de que inevitavelmente perderia numa eleição direta, mas que os ratos do partido governista (aqueles que abandonam os barcos quando estão afundando…), por ele já aliciados, lhe garantiriam a vitória pela via indireta, instruiu-os a votarem contra a emenda Dante de Oliveira, para depois elegerem-no no Colégio Eleitoral. Não deu outra. 
Se aquela corja tivesse virado a casaca um pouco antes, nossa História seria outra. Mas, aí eles não ganhariam nada em troca. Preferiram fazer as coisas de forma a que o voto de cada um deles valesse muito, pois só assim seriam regiamente recompensados. E que se danasse o povo brasileiro! 
Parece que até mesmo Deus ficou indignado com Tancredo Neves, por ter roubado dos brasileiros o direito de decidirem de forma altaneira seu destino: ele ganhou mas não levou, morrendo antes de assumir. Mas continuamos no prejuízo, porque a faixa presidencial passou às mãos do pior presidente (ditadores excluídos) da nossa História, o lambe-botas de milicos José Sarney, principal culpado pela redemocratização pusilâmine e recordista absoluto de índices inflacionários no Brasil.
Não creio que nos tenha faltado um publicitário brilhante, a campanha das diretas também foi comovente e empolgante. Faltaram é deputados com um mínimo de dignidade e vergonha na cara.

Para mais informações sobre este assunto, clique aqui: A noite em que o Brasil se f…     

O BLOGUE ORGULHOSAMENTE APRESENTA UM FILME SOBRE A COLÔNIA CECÍLIA

O filme La Cecilia (d. Jean-Louis Comolli, 1975) resgata um episódio histórico pouco conhecido entre nós, embora aqui transcorrido: a implantação de uma colônia rural no Paraná, por parte de anarquistas italianos.
O experimento durou cerca de quatro anos, entre 1890 e 1893. Houve muito entusiasmo no início, mas depois foram aflorando os problemas que acabariam levando à extinção da colônia. Eis alguns deles:

  • a contribuição desigual de citadinos e camponeses, pois a produtividade dos primeiros era inferior. Deveriam receber a mesma fração dos frutos do trabalho, conforme os ideais igualitários? Isto não significaria uma espécie de proletarização dos que produziam mais por estarem acostumados a lidar com a terra? De outra parte, se os lavradores fossem melhor aquinhoados do que os outros, não estaria sendo reproduzida a escala de valores da sociedade burguesa? Inexistia uma solução que contentasse a todos.
  • a dificuldade de lidarem, no dia a dia, com o conceito do amor livre, uma novidade que incomodava principalmente as colonas de origem camponesa;
  • a absoluta falta de seriedade do Estado brasileiro, que já era patético décadas antes de De Gaulle o haver constatado. O imperador Pedro II, atendendo a pedido do músico Carlos Gomes, doou as terras para a instalação da Cecília, mas, proclamada a República, o seu ato foi sumariamente revogado e os colonos tiveram de pagar pelas terras com parte de sua colheita e trabalhando sem remuneração em obras do governo;
  • a hostilidade dos moradores da região (por sentirem-se prejudicados pela concorrência) e de uma vizinha comunidade polonesa, católica e conservadora;
  • as fases de escassez e de fome, com a consequente ocorrência de doenças decorrentes da desnutrição (problemas passageiros, que, contudo, reforçaram a tendência ao egoísmo por parte dos menos convictos dos ideais anarquistas, gerando nocivas divisões);
  • a tentativa do governo de recrutar os colonos (italianos!!!) para combaterem a Revolução Federalista, o que, inclusive, contrariava seus ideais, pois simpatizavam com os revoltosos.
A Cecília chegou a ter 250 moradores, houve defecções em massa, a chegada de novas levas de pessoas atraídas pela divulgação nos círculos libertários europeus, etc. Alguns desistentes migraram para Curitiba, onde fundaram a Sociedade Giuseppe Garibaldi.

É o que o filme mostra, de forma dramatizada e com evidente simpatia pela causa.

Vale destacar que o elenco, cuja única cara familiar ao público brasileiro é a do ótimo Vittorio Mezzogiorno (No coração da montanha, O processo do desejo, Três irmãos), deu perfeita conta do recado.

Particularmente, eu preferiria uma abordagem menos convencional -como, p. ex., a que o cineasta suíço Alain Tanner deu aos ideais de 1968 no seu extraordinário Jonas, que terá 25 anos no ano 2000

Mas, sendo tão raras as produções que enfocam episódios históricos ligados ao anarquismo, temos mais é de difundi-las e recomendar a sua discussão.
Chega a ser chocante que, em meio a tanta tralha produzida no Brasil, ninguém haja realizado um filme sobre a Colonia Cecília. Nem sobre a importantíssima greve geral de 1917, a primeira com maior abrangência em nosso País, tendo sido dramática, sangrenta, longa e… vitoriosa!    
A tutela do sectário PCB sobre a historiografia de esquerda implicou a minimização tanto da Colonia Cecília quanto da greve de 1917, durante décadas. Quando as bandeiras negras anarquistas foram erguidas nas barricadas parisienses em 1968, o interesse dos historiadores por ambas foi reavivado, daí resultando livros e estudos acadêmicos que dimensionaram melhor sua relevância.
Nosso cinema, contudo, continua desperdiçando estes dois grandes temas. Que cada um teça suas conjeturas sobre os motivos de tão injustificável omissão.

DEPOIS DA ‘GUERRA DA LAGOSTA’, TEREMOS A ‘GUERRA DA CAMISINHA’?

Eis a principal lição a tirarmos do Caso WikiLeaks (pois é disto que se trata): as forças reacionárias perderam o último resquício de compostura e estão utilizando desavergonhadamente sua indústria cultural para impingir aos cidadãos as lorotas mais inverossímeis.

Querem retaliar Julian Assange por ter divulgado cerca de 250 mil documentos secretos estadunidenses, comprovando irrefutavelmente que os EUA cometem atos ilegais e abomináveis em suas intervenções para mudar governos de nações soberanas e nas caçadas a supostos terroristas.

O responsável pelo vazamento de tais evidências de crimes –que, estes sim, deveriam estar sendo apurados para efeitos penais–, um heróico soldado e analista de inteligência do exército dos EUA chamado Bradley Manning, é submetido a rigores extremos em prisões militares.

Graças a ele, a Assange e ao WikiLeaks, o mundo ficou sabendo, p. ex., que cerca de 150 pessoas inocentes ficaram presas durante períodos variáveis (até por vários anos) no centro de torturas de Guantánamo, sem julgamento nem nada, apenas por terem a ascendência errada ou haverem sido encontradas perto do lugar errado e na hora errada, sem nenhuma evidência concreta respaldando as suspeitas de envolvimento com ações terroristas.

Numa covarde demonstração do seu poder de esmagar os desafetos, os EUA há mais de dois anos estão destruindo Manning psicologicamente.

E foi para submeter Assange ao mesmo suplício que armaram uma farsa simplesmente ridícula na Suécia, no sentido de que o porta-voz do WikiLeaks ficasse detido naquele país –o qual, cumprindo seu papel no script, aceitaria em seguida entregá-lo aos Estados Unidos, para responder a acusações bem mais graves (espionagem e que tais).

As bombásticas acusações de estupro e crime sexual se reduzem ao fato de ele ter mantido relações consentidas com duas mulheres, a camisinha haver-se rompido e Assange (segundo elas) insistido em completar o ato sem preservativo. Nem sequer utilizou a violência para impor sua vontade, já que a fulana não foi agredida.

Se episódios deste tipo fossem levados a ferro e fogo, boa parte da população masculina mundial estaria encarcerada.

E é pra lá de sintomático o fato de uma das denunciantes ter todo o perfil de tarefeira da espionagem estadunidense: Ana Ardin é cubana, anticastrista e trabalhou para ONGs financiadas pela CIA. 

Basta somarmos dois e dois para encontrarmos quatro, ou seja, concluirmos que tudo não passou de uma  armação ilimitada  envolvendo uma potência (EUA), dois países lacaios (Suécia e Reino Unido) e uma nação vergonhosamente omissa (a Austrália, que não moveu uma palha por um australiano perseguido e injustiçado).

Mais: se Assange fosse apenas um cavalheiro que prefere transar sem camisinha o Reino Unido e a Suécia fariam tamanho reboliço e se empenhariam tanto em obter sua cabeça? Nem a pau, Juvenal.

Os britânicos, simplesmente, ameaçaram cometer um ato de guerra contra o Equador, ao comunicar-lhe que cogitavam invadir a embaixada equatoriana para sequestrar Assange. Como as embaixadas são extensões do território do país, isto equivaleria  a uma invasão do Equador. É crível que fossem tão longe por uma besteirinha de alcova?

Fez-me lembrar de uma desavença entre o Brasil e a França, meio século atrás, sobre a pesca em larga escala de lagostas na plataforma continental brasileira (mais detalhes aqui). 

Um pesqueiro francês foi apresado por uma corveta brasileira e houve até mobilização militar: o presidente Charles De Gaulle enviou um navio de guerra para proteger os pesqueiros e o Brasil deslocou esquadrões de aeronaves para o litoral nordestino. Os dois lados escoravam-se em interpretações diferentes dos direitos de pesca de peixes e de crustáceos.

deixa disso! acabou prevalecendo, mas o patético da chamada  guerra da lagosta  municiou fartamente os humoristas. A melhor gozação foi esta paródia, de autoria desconhecida, da marchinha carnavalesca “Cachaça não é água”:

Você pensa que lagosta é peixe?
Lagosta não é peixe, não!
Peixe é bicho que nada,
crustáceo não nada, não!

Pode faltar tudo ao brasileiro:
arroz, feijão e pão.
Mas, a lagosta é nossa,
De Gaulle não bota a mão!

Pode mandar vaso de guerra,
disto até acho graça:
por causa da lagosta,
até eu vou sentar praça!”

 Agora, o leão desdentado ameaça travar com o Equador a  guerra da camisinha. Falta um humorista que escancare tudo que há de hilário e grotesco nas atitude britânicas.

GRANDES NOMES DA HISTÓRIA

Rei Leônidas: comandou os 300 guerreiros espartanos que resistiram até a morte ao poderoso exército persa do rei Xerxes.
Jesus Cristo: sabendo que teria como destino morrer na cruz, aceitou sacrificar-se em nome de suas crenças.
Filósofo Giordano Bruno: preso e torturado pelo Santo Ofício por mais de sete anos, recusou salvar-se com uma tímida abjuração, preferindo morrer, porque, segundo suas palavras, havia “sangue demais” nas mãos dos inquisidores.

Tiradentes: assumiu toda a culpa e isentou os outros conspiradores de responsabilidades pela Inconfidência Mineira, afirmando que “se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria para salvar as deles”

General Charles Gordon: era uma lenda viva no Oriente quando decidiu permanecer em Khartoum, cercada pelos fanáticos guerreiros do Mahdi, na esperança de que os britânicos, intervindo para salvar sua vida, evitassem o massacre da população. A cidade caiu e ele morreu.

Presidente Getúlio Vargas: na iminência de sofrer impeachment, respondeu com o suicídio e uma dramática carta-testamento que motivou as forças populares a reagirem, impedindo a tomada do poder pelos conspiradores direitistas.

Presidente Charles De Gaulle: fazia questão de, durante os atentados que sofria dos terroristas da OAS (inconformados com a retirada dos colonialistas franceses da Argélia), mostrar total indiferença às balas que zuniam a seu redor.

Comandante Joaquim Câmara Ferreira: barbaramente torturado durante a ditadura varguista, garantiu que isto nunca se repetiria. Preso no regime militar, atracou-se com os torturadores, confrontando-os vigorosamente até forçar um ataque cardíaco.

Companheiro Presidente Salvador Allende: recusou a oferta dos golpistas de Pinochet, que lhe permitiriam sair do Chile, num avião, com os seguidores que escolhesse. Falou ao povo pela rádio, despedindo-se e manifestando sua confiança num destino socialista. E deu cabo da vida.   

Bobby Sands: militante do Exército Repúblicano Irlandês (IRA) que morreu após sustentar uma greve de fome por 66 dias contra o jugo inglês.

José Serra: em 2010, interrompeu sua campanha presidencial na reta final, para recuperar-se do terrível trauma que sofreu ao ser atingido por uma bolinha de papel e um rolinho de fita crepe.