Fukushima

"F…-SE O MUNDO!" DEIXOU DE SER GRACEJO

Primeiro vieram os alertas de que as alterações climáticas convulsionariam o planeta, ameaçando a própria sobrevivência da espécie humana.

Depois, os que lucram com as práticas causadoras do aquecimento global e da dilapidação de recursos essenciais para continuarmos a existir, contra-atacaram com uma verdadeira blietzkrieg de propaganda enganosa. 

No capitalismo todos se vendem, até cientistas. Então, não foi difícil encontrar quem preferisse um bom saldo bancário do que boas perspectivas para  os pósteros. É a velha história do “eu não me chamo Raimundo”. Mesmo quando “f…-se o mundo!” deixou de ser gracejo, tornando-se possibilidade concreta.

Veio Fukushima e poucos notaram que as inundações e terremotos causados pelos distúrbios do clima poderão ter efeito semelhante em qualquer usina nuclear do planeta. São bombas-relógio que armamos para nós mesmos.  Passamos tanto tempo temendo que o fim do mundo viesse com as superpotências iniciando uma guerra atômica e não nos demos conta de que a radiação poderá se abater sobre nós… por acaso.

Mas, os grandes poluidores e os grandes devastadores continuam auferindo grandes lucros. Já as chances de haver um século 22 deixaram de ser grandes e diminuem cada vez mais.

E ainda há quem acredite que uma campanha eleitoral deva centrar-se em miudezas paroquiais, quando deveríamos, isto sim, estar tentando deter a marcha da insanidade, na economia e no clima.

Eis um novo alerta, desta vez do colunista Marcelo Leite, da Folha de S. Paulo. Faz lembrar um filme agourento do mestre Robert Altman, Quinteto (1979), sobre os estertores da humanidade sob uma nova Era Glacial. Leiam e reflitam:

Seis dias atrás, o oceano Ártico alcançou um recorde notado por pouca gente. A calota de gelo que flutua sobre ele, na região do polo Norte, encolheu para a menor área já registrada: 3,4 milhões de km² (para comparar, o território do Brasil tem 8,5 milhões de km²).

 …são fortes os indícios (…) de uma tendência para sobrar cada vez menos gelo.

Essa tendência foi prevista por sucessivos relatórios do vilipendiado Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, nos quais se apontava que o aquecimento global seria mais rápido e intenso no hemisfério Norte. Só que as projeções do IPCC indicavam um Ártico livre de gelo no verão ali por 2100, e agora parece cada vez mais provável que esse evento descomunal ocorra já nesta década.

Por trás da aparente aceleração estaria o ‘feedback positivo’ temido por climatologistas, ou seja, uma tendência que se realimenta de si própria -uma reação em cadeia.

Menos gelo significa uma área menor de superfície branca para refletir a luz do sol, radiação que passa a ser absorvida pela água escura. Mais quente, o oceano forma menos gelo, e assim por diante.

…um Ártico sem gelo tumultuaria o clima no hemisfério Norte. Paradoxalmente, prevê-se que seus invernos fiquem mais rigorosos.

Por isso, se lá por dezembro ou janeiro caírem nevascas gigantes na Europa ou nos EUA, fique esperto com os murmúrios de que o aquecimento global é pura farsa.

FIM DO PODER, FIM DO CAPITALISMO OU FIM DO MUNDO?

O fim do poder, do escritor e analista de assuntos econômicos e políticos Moisés Naím, é um artigo inspirado: aborda tendências que muitos já havíamos percebido, sem relacioná-las umas às outras. Paradoxalmente, às vezes é difícil enxergarmos o óbvio.

Vale a pena reproduzir, na íntegra, o texto do venezuelano Naím, que serve como ponto de partida para depois eu ampliar um pouco o foco:

O que têm em comum o aquecimento global, a crise na zona do euro e os massacres na Síria? O fato de ninguém ter o poder de detê-los. Cada uma dessas situações vem se deteriorando em plena vista do mundo. As três implicam graves perigos e o sofrimento de milhões de pessoas. Há ideias do que fazer em relação às três. Mas não acontece nada.

Há reuniões de ministros, cúpulas de chefes de Estado, exortações de líderes sociais, religiosos e acadêmicos. Nada. Diariamente, somos informados de que cada uma dessas crises segue adiante na corrida desembestada rumo ao despenhadeiro. E…? Nada. Não ocorre nada.

É como assistir a um filme em câmera lenta em que um ônibus cheio de passageiros ruma ao precipício, enquanto o motorista não pisa no freio nem muda de direção. O problema é que todos estamos nesse ônibus. No mundo atual, o que acontece em outro lugar, por distante que pareça ser, acaba nos afetando.

Mas minha metáfora é imperfeita. Supõe que o freio e o volante funcionem e que exista um motorista com o poder de frear ou mudar de rumo. Porém não é o que ocorre.

No caso dessas três crises -e de muitas outras-, não há um motorista único, e sim vários. E cada vez há mais motoristas, ou candidatos a motoristas, que, embora não tenham o poder de decidir a direção e a velocidade do ônibus, têm, sim, o poder de impedir que sejam tomadas decisões das quais discordam.

“É impossível ignorar os efeitos do clima sobre
todos nós e sobre as gerações que vão nos seguir”

 Rússia e China não podem solucionar a crise na Síria. Mas podem vetar as tentativas de outros países de deter as matanças. Os líderes de Itália, Espanha ou Grécia precisam da ajuda de outros países e de entidades como o Banco Central Europeu ou o FMI para enfrentar sua crise. Contudo, embora nem Angela Merkel nem os órgãos internacionais tenham o poder de solucionar a crise, eles podem bloquear o jogo.

Com o aquecimento global é a mesma coisa. As evidências científicas avassaladoras confirmam que a atividade humana está aquecendo o planeta, o que gera variações climáticas traumáticas. Se as emissões de certos gases não diminuírem, as consequências para a humanidade serão desastrosas.

E, se para alguns é fácil ignorar a tragédia síria, por estar muito distante, ou a europeia, por lhes ser alheia, é impossível ignorar os efeitos do clima sobre todos nós e sobre as gerações que vão nos seguir.

Essas três crises são uma manifestação de uma tendência que as ultrapassa e que molda muitas outras esferas: o fim do poder. Isso não significa que o poder vá desaparecer ou que já não haja atores com imensa capacidade de impor sua vontade a outros. Significa que o poder vem ficando cada vez mais difícil de exercer e mais fácil de perder. E que quem tem poder hoje está mais limitado em sua aplicação do que eram seus predecessores.

O presidente dos EUA (ou da China), o papa, o chefe do Pentágono ou os responsáveis por Banco Mundial, Goldman Sachs, ‘The New York Times’ ou qualquer partido político hoje têm menos poder do que aqueles que os precederam.

O fim do poder é uma das principais tendências que vão definir o nosso tempo.

A SOLUÇÃO REAL PARA A CRISE
ECONÔMICA É O FIM DO CAPITALISMO

Apesar de terem como ponto comum a chocante omissão dos que deveriam liderar a humanidade face a elas, tais crises guardam também diferenças significativas entre si.

O colapso da economia capitalista é inevitável e sua agonia já se prolonga muito mais do que deveria. Trata-se de uma óbvia consequência da contradição entre a produção coletiva dos bens e a apropriação individual de parte significativa dos frutos desse trabalho coletivo, gerando permanente  descasamento  entre produção e consumo.

Como uns não recebem um quinhão proporcional ao que produziram e outros não têm nem o que fazer com a imensidão de quinhões alheios que usurparam, geram-se distorções em escala geométrica, desembocando nas crises cíclicas do capitalismo flagradas no tempo de Marx.

O capitalismo conseguiu, principalmente graças aos mecanismos de crédito que vão esticando a corda do elástico, impedir que tais crises ocorram periodicamente (como outrora pipocavam mais ou menos de dez em dez anos).

Mas, a artificialidade do edifício erigido é tal que o acerto de contas –todo mundo, governos, empresas e cidadãos, gasta mais do que possui e vai empurrando com a barriga dividas que não teria como saldar–, adiado indefinidamente, acabou emperrando a economia mundial como um todo.

Não há mais como escapar. Marchamos para uma depressão pior ainda que a da década de 1930; e, se tivermos sorte, para uma revolução que conduza a humanidade para um estágio superior de civilização. Se tivermos azar, para o caos e a barbárie.

Engels alertou que é esta a consequência de se represar as revoluções necessárias e prementes; segundo ele, ao impedir que o levante dos gladiadores de Spartacus desse fim à escravidão, liberando as forças produtivas do Império Romano, este se condenou ao desaparecimento, ensejando um retrocesso tão acentuado que a civilização levou um milênio para alcançar de novo o estágio de desenvolvimento já atingido por Roma.

JÁ PASSOU DA HORA DE DETERMOS
A HECATOMBE HUMANITÁRIA NA SÍRIA

Diferentemente, a crise síria poderia ser resolvida. Ocorre que os desatinos da intervenção da Otan na Líbia estão sendo, até agora, obstáculo a uma solução civilizada.

Ditadores são difíceis de remover, pois usam parte do que saquearam dos seus povos para armarem-se até os dentes e não hesitam em recorrer às mais bestiais torturas e as matanças mais indicriminadas para perpetuarem-se no poder.

Quando, finalmente, os cidadãos pegam em armas contra as tiranias, há, sim, motivo para (e necessidade de) a comunidade internacional intervir, para evitar que sejam massacrados. Até aí a ONU estava certa no caso da Líbia –por mais que uma esquerda que ainda não saiu das trevas do stalinismo berre e esperneie, continuarei defendendo esta postura civilizada.

Mas, num ponto qualquer do caminho, a Otan extrapolou a missão que a ONU lhe conferiu. Ao invés de apenas defender a população civil e evitar massacres, passou a conduzir ela própria as operações militares para a derrubada de Gaddafi. Cabia aos líbios livrarem-se por si sós do odioso tirano, não à Otan fazer o serviço no lugar deles.

Tal erro acabou tendo trágicas consequências, não só na Líbia, como as que se verificam hoje na Síria, onde há muito tempo deveria ter havido uma intervenção da ONU, nos mesmíssimos moldes daquela que ela autorizou contra Gaddafi, apenas zelando para que desta vez fosse mantida sob estrito controle.

O preço da omissão é a destruição do país e os sofrimentos terríveis que estão sendo impostos a centenas de milhares de sírios. Nenhuma racionália geopolítica justifica tal hecatombe humanitária. Quem compactua com tais horrores é tudo, menos um seguidor de Marx ou Proudhon. Está mais para herdeiro de Pol Pot e Vlad Dracul.

A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O
FIM DA HUMANIDADE ESTÁ EM CURSO

Finalmente, a destruição das próprias bases da sobrevivência da espécie humana por parte do capitalismo –e aqui nos referimos não só ao aquecimento global, mas também ao malbaratamento de recursos finitos que nos são essenciais, como a água– não cessará enquanto a organização social e econômica priorizar interesses particulares e não a promoção do bem comum.

Ninguém precisa ser cientista para perceber que o quadro se agrava insensivelmente, que as alterações climáticas causam cada vez mais estragos e (vide Fukushima) que corremos enorme risco de as inundações e terremotos servirem como estopins de acidentes nucleares.

Mas, há cientistas pagos pelos  agentes do juízo final  para proclamarem exatamente o contrário, minimizando o perigo. Há nações que proclamam a prevalência do seu direito ao crescimento econômico sobre os interesses maiores da humanidade, inclusive a salvação da espécie humana.

Então, repetindo a conclusão sobre a agonia da economia capitalista:

  • se tivermos sorte, quando a escalada de catástrofes intensificar-se a ponto de não restarem mais dúvidas de que marchamos para o fim, os homens se unirão numa luta coletiva pela sobrevivência e depois cuidarão de reconstruir a sociedade em bases solidárias, pois vão saber muito bem aonde o  cada um por si  desemboca;
  • se tivermos azar, ou a espécie humana será extinta, ou o retrocesso vai ser maior ainda que o ocorrido após a queda do Império Romano.

É simples assim. É terrível assim.

APOCALÍPSE QUANDO?

Esta é a ameaça…

Depois da consagração com “Disparada” no Festival da Record de 1966, Geraldo Vandré tentou repetir a dose no ano seguinte: na mesma linha do épico do boiadeiro, inscreveu um épico… do chofer de caminhão.

A estrutura era idêntica, havia também uma introdução (“Meu senhor, minha senhora/ vou falar com precisão/ não me negue nesta hora/ seu calor, sua atenção”) bem nas pegadas da anterior (“Prepare o seu coração/ pras coisas que eu vou contar/ Eu venho lá do sertão/ e posso não lhe agradar”), letra longa descrevendo a   jornada do imbecil até o entendimento, etc.

E, como rendera boa divulgação prévia a utilização de uma queixada de burro como instrumento musical, ele levou novamente uma atração bizarra para o palco: uma possante buzina, que soou os acordes iniciais de “De como um homem perdeu seu cavalo e continuou andando” (ou, simplesmente, “Ventania”).
A repetição de fórmula não colou, mas não era uma composição descartável. Gosto até hoje desta estrofe:
Andei pelo mundo afora
querendo tanto encontrar
um lugar pra ser contente
onde eu pudesse ficar.
Mas a vida não mudava
mudando só de lugar
É também meu sentimento em relação à virada da folhinha.
A vida não muda mudando só de ano, embora queiramos sempre acreditar que o seguinte será melhor… apenas porque já não suportávamos mais o outro.
…estes, os principais ameaçados…

Só que há razões bem determinadas para nossos anos serem ruins. Dá para enfeixá-las numa única palavra: capitalismo.

Assim, p. ex., existem duas bombas-relógios em nosso futuro, por  cortesia  dessa entidade que verdadeiramente já morreu, mas deixamos continuar nos desgraçando, ao invés de cravar-lhe a estaca que a reduzirá a pó.
A primeira é a grande depressão que, mais dia, menos dia, desabará sobre nós, como consequência do represamento das crises cíclicas capitalistas –elas antes eram periódicas e relativamente mais brandas, agora o sistema consegue postergá-las, empurrando-as mais e mais para a frente, o que não impedirá o elástico de acabar arrebentando. E aí a crise iniciada com o  crack   de 1929 parecerá, provavelmente, brinquedo de criança.
Será em 2012 o  apocalypse now? Ou continuaremos nessa lenta agonia que já tragou Grécia, Espanha, Itália? As pedras do dominó continuarão tombando uma por vez ou vão cair todas de uma vez?
A outra incognita são as consequências do aquecimento global. Vimos em Fukushima o trailer do que está por vir: a conjugação de sismo e tsunami com a insegurança nuclear quase completou a obra estadunidense de agosto/1945, tornando o Japão uma ilha bem mais nua que a do filme do Kaneto Shindô.
Catástrofes naturais continuarão ocorrendo, mesmo se tomarmos as medidas necessárias para impedir que a indústria automobilística e outros focos de poluição atmosférica extingam a espécie humana. Já não se trata mais de evitá-las, e sim de minorar sua intensidade e  período de duração  (nosso  período de provação).

E nem isto estamos, realmente, fazendo. Parece que as coisas ainda terão de piorar, antes de começarem a melhorar.

…e este, o motivo da ameaça.

É certo que a fúria da natureza vai aumentar neste ano, como veio aumentando nos últimos. Mas, não dá para prevermos se haverá ocorrências de extrema gravidade em 2012 ou vamos ser poupados. Elas estão sendo incubadas e os ovos vão eclodir, cedo ou tarde.

O que fazer?
Iludir-se com a desconversa dos pistoleiros de aluguel acadêmicos e midiáticos do capitalismo?
Deixar-se tomar pelo pessimismo, arrancando os cabelos?
Resignar-se à vontade divina?
Aproveitar ao máximo os últimos dias de Pompéia, e que se dane o mundo?
No fundo é questão de temperamento –além do dever de legarmos vida a quem demos vida.
Mas, como dizem os zen-budistas, o dever só obriga quem acredita que o tem. E o capitalismo insufla ao máximo o egoísmo e a indiferença pela sorte dos outros –quaisquer outros, até filhos e netos, salvo no que tange aos gastos para aplacar a consciência culpada por não lhes dar a atenção que merecem…
Falo por mim, e sei que meus leitores são afins: lutarei com todas as minhas forças, nos anos que me restam, para que minhas filhas e netos não vivam e morram num planeta devastado.
E também porque lutar é sempre minha primeira reação face aos poderosos, suas injustiças sem perdão e seus crimes sem castigo.
Foi o grande motivo de eu ter entrado no caminho das lutas políticas sociais aos 16 anos; continua sendo um forte motivo aos 61.
Somos o que somos, traçando nossos caminhos pelo mundo a partir do que somos –ou seja, de como nos construímos pela vivência pessoal do eterno conflito entre o cosmo sangrento e a alma pura (grande Mário Faustino!).
O calendário nada tem a ver com isto.

O CAPITALISMO NOS OBRIGA A FLERTAR COM A MORTE

É de Norman O. Brown a tese de que o capitalismo, em sua fase terminal, tornou-se agente da destruição da humanidade.

A teorização dele em Vida contra morte (1959) é tão complexa que os resumos se tornam inevitavelmente reducionistas e empobrecedores. É melhor mesmo enfrentarmos a obra, uma das poucas que trazem reais subsídios à compreensão do nosso tempo… mesmo meio século depois!
O certo é que, indo além do óbvio ululante de que o capitalismo já esgotou sua função histórica e está prenhe de revolução, O. Brown dissecou com ferramentas freudianas, exaustivamente, as características que o vampiro assume em sua sobrevida artificial, concluindo que ele cataliza as energias destrutivas dos homens, voltando-as contra eles.
Fantasioso? Se pensarmos na destruição e no caos que estão à nossa espera nas próximas décadas, decorrentes das agressões insensatas ao meio ambiente, perceberemos que ele foi, isto sim, profético.
Vide, p. ex., esta notícia da Agência Brasil, assinada pela repórter Renata Giraldi, que aproveitou despachos da BBC e de outras agências internacionais:
O mundo está ‘perigosamente’ despreparado para lidar com futuros desastres naturais, advertiu a agência de desenvolvimento internacional da Grã-Bretanha. A agência britânica informou que o despreparo é causado pela ausência de contribuição dos países ricos ao fundo de emergência mundial.
O fundo de emergência é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas, criada como resposta a tsunamis, com o objetivo de auxiliar regiões afetadas por desastres naturais.
De acordo com informações de funcionários da ONU, o fundo emergencial sofre com um déficit equivalente a R$ 130,5 milhões para 2012.
A escassez do fundo, segundo especialistas, tem relação direta com a série de tragédias naturais que ocorreram ao longo de 2011, como o tsunami seguido por terremoto no Japão; a sequência de tremores de terra na Nova Zelândia, enchentes no Paquistão e nas Filipinas e fome no Chifre da África.
Ontem (26) peritos japoneses e estrangeiros concluíram que medidas de precaução adequadas poderiam ter evitado os acidentes radioativos, na Usina de Fukushima Daiichi, no Nordeste do Japão, em 11 de março deste ano…
…Segundo eles, houve falhas no que se refere às influências de terremotos e tsunamis na estrutura física da usina.

Resumo da opereta: o lucro é a prioridade máxima, dane-se a nossa sobrevivência! A mesma lógica   perversa se constata numa infinidade de outras ocorrências. O capitalismo nos obriga a flertar com a morte.

O pensador nascido no México, filho de um casal estadunidense, apostava na  ressurreição dos corpos, na liberação do erotismo para derrotarmos a repressão e a morte –um pouco na linha de Wilhelm Reich, só que com argumentação bem mais sofisticada.
Contudo, deve ser também considerada a tese de Herbert Marcuse sobre a  dessublimação repressiva  sob o capitalismo, ou seja, uma dessublimação meia-boca, que não extingue a repressão.
É como pode ser considerada a atual banalização do sexo como descarga física, sem real envolvimento amoroso.
Ou seja, o sexo casual, coisificado, em que os parceiros usam um ao outro para obterem seu prazer egoísta, sem doação, sem verdadeiramente se complementarem.
Este acaba reforçando a repressão, ao deslocá-la para o outro oposto: em lugar do amor com sexo travado de outrora, o sexo animalizado de hoje, dissociado do amor.
Já encontrei moças que, nuas e oferecidas, recusavam-se a ser beijadas na boca, como antes era atitude comum das prostitutas. Só faltava repetirem a frase que Hollywood costuma atribuir aos gangstêres: “Não é pessoal, são só negócios”…
Neste sentido, acredito em O. Brown: a plenitude amorosa –em que o amor físico e espiritual são uma e a mesma coisa, com a identidade dos parceiros se dissolvendo num conjunto maior, quando um mais um soma bem mais do que dois– continua incompatível com o capitalismo.

Transgride-o e o transcende, empurrando os domesticados seres humanos para uma convivência amorosa/harmoniosa com o(a) outro(a) –e, por extensão do mesmo clima, com todos os demais  e com a natureza.

Impelindo-os, enfim, à aventura da libertação.

EMPRESÁRIOS GANANCIOSOS QUEREM IMPOR RISCO NUCLEAR AOS BRASILEIROS

Professor emérito da USP, o septuagenário Alfredo Bosi lança um alerta importantíssimo contra as pressões empresariais para que sejam impostos aos brasileiros os enormes riscos inerentes à ativação de Angra 3. 

Querem enfiar-nos goela adentro a retomada das obras de uma usina nuclar que tem grande possibilidade de repetir a catástrofe japonesa, como fui dos primeiros a advertir, no artigo Fukushima 1 é uma “bomba relógio dupla”. Angra 2 e Angra 3 também, de cinco meses atrás.

Isto seria uma estupidez, uma infâmia e um crime, neste momento em que o mundo começa a acordar do pesadelo nuclear. Daí eu subscrever cada palavra e recomendar máxima divulgação deste artigo.

ANGRA 3 É UMA QUESTÃO ÉTICA
Eis o que poderá acontecer aqui…

O referendo italiano que rejeitou maciçamente as usinas nucleares é modelo de participação popular; talvez seja o caso de imitá-lo aqui

Se a construção de uma usina nuclear fosse apenas uma questão técnica, seria reduzido o número das pessoas capazes de opinar sobre o assunto. Mas os riscos a que estão sujeitas as populações que vivem perto dos reatores são inegáveis. Como nenhum cientista pode afirmar que o risco é zero, a questão passa a ser ética.
Como delegar a sorte de milhares de cidadãos à onipotência de alguns tecnocratas e aos interesses desta ou daquela empresa? Um programa sem o respaldo da opinião pública esclarecida é acintosamente antidemocrático. O referendo italiano que rejeitou maciçamente as usinas nucleares é modelo de participação popular. Talvez seja o caso de imitá-lo.
Na Alemanha, a decisão do governo de suspender o programa nuclear atendeu a um movimento cívico que exige investimento em formas de energia renováveis e seguras. Por que o BNDES se dispõe a malbaratar bilhões de dólares em Angra 3 em vez de aplicar esse capital, arrancado aos contribuintes, na difusão em larga escala daquelas formas de energia?
As empresas nucleares preferem privatizar benefícios e socializar prejuízos, no caso, perigos.
Mas não há dinheiro que possa indenizar câncer hepático ou leucemia nas crianças vítimas dos vazamentos. O cidadão brasileiro tem o direito de perguntar: o que será feito com o lixo de Angra 1, 2 e 3? Que direito temos de legar aos pósteros esse pesadelo?
O presidente Bush autorizou a remoção dos rejeitos para depósitos a serem cavados em Yucca Mountain, mas a população do Estado de Nevada e as comunidades indígenas que lá vivem há séculos rebelaram-se contra uma decisão que violava o seu território. Obama prometeu revogar o decreto do antecessor, mas o impasse continua.
…e qual seria uma consequência.

Físicos da envergadura do saudoso Mário Schenberg (que condenou a instalação de uma usina em Iguape), José Goldemberg, Pinguelli Rosa, Cerqueira Leite, Ildo Sauer e Joaquim Carvalho alertam para o caráter desnecessário da energia nuclear no Brasil. As potencialidades de nossa biomassa, bem como de outras fontes renováveis, fornecem base segura para um desenvolvimento sustentável.

Nossos cientistas são evidentemente favoráveis a pesquisas na área nuclear que tenham aplicações na biologia, na medicina e na agricultura. A energia nuclear é cara. Dados do Greenpeace: ‘O preço da tarifa ao consumidor pode sair por US$ 113/MWh, contra US$ 74/ MWh da energia gerada pela biomassa e US$ 82/MWh da eólica’.

Arriscada, desnecessária, cara…, mas dirão que é limpa; desde quando lixo atômico é sinal de limpeza?
O enriquecimento do urânio depende de eletricidade gerada por combustíveis fósseis, como o carvão. Duas das minas de carvão mais poluentes dos Estados Unidos, em Ohio e em Indiana, produzem eletricidade para enriquecer urânio. É o que informa B. Sovacool no número 150 da ‘Foreign Policy’.
Enfim, uma boa notícia. A OAB anunciou, em 4 de julho de 2011, que está recorrendo ao Supremo Tribunal Federal exigindo que a eventual retomada das obras de Angra 3 só possa fazer-se com autorização do Congresso Nacional e mediante nova legislação federal.
Assim o requer a Constituição de 1988. Que os parlamentares ouçam a voz dos eleitores e não se dobrem às pressões de empresários gananciosos e políticos desinformados.

CONVOQUEMOS O PLEBISCITO CERTO. PARA QUE ANGRA NÃO VIRE FUKUSHIMA

Como escritor e jornalista, Carlos Heitor Cony é dos melhores que temos.

Algumas atitudes do homem foram decepcionantes, mas ninguém é perfeito. Suas avaliações de assuntos que não o envolvem pessoalmente continuam sendo das mais consistentes. Portanto, devem ser lidas e consideradas.
Como a da coluna desta 3ª feira (19), Os plebiscitos, na qual faz restrições à proposta de um referendum sobre o uso e a venda de armas, contrapondo-lhe um problema em que a consulta aos cidadãos se faz realmente necessária e premente:
O governo promete ampliar a energia nuclear concluindo Angra 3 e construindo mais quatro usinas, isso numa época em que países mais industrializados, como a Suécia e a Itália, estão desativando seus programas nucleares. O governo da Alemanha também estuda a possibilidade de reduzir ou acabar com suas usinas.
O investimento é vultoso (pelo menos R$ 8 bilhões cada uma) e os riscos de um acidente como o de Three Mile Island (1979), de Chernobil (1986) e, agora, o de Fukushima, cujos efeitos ainda estão se manifestando, exigem uma consulta popular justamente num país que tem numerosos recursos naturais para gerar energia, como as hidrelétricas, além de opções que a tecnologia vai criando sem cessar, como a eólica, a solar etc.
Tamanha verba poderia ser em parte aplicada num programa para tornar mais seguras as usinas que temos em Angra dos Reis (RJ), onde ainda não há condições de retirada imediata da população.
Um acidente de grande proporção no litoral fluminense colocaria em risco as duas maiores cidades brasileiras, além de causar devastação em várias cidades próximas.
Um plebiscito daria ao governo e à sociedade uma orientação mais democrática sobre o programa de energia nuclear, importante demais para ser da agenda exclusiva de técnicos e funcionários [o grifo é meu].

A mesma preocupação, aliás, já havia sido manifestada pelo maior jurista brasileiro vivo, Dalmo de Abreu Dallari:

A tragédia sofrida pelo povo japonês deve servir de alerta, estimulando a busca de outras fontes de energia, para atendimento das necessidades básicas das populações do mundo, mas também influindo para que se faça ampla divulgação dos aspectos básicos das opções existentes, informando o povo e dando-lhe a possibilidade de acompanhar as discussões e, mesmo, de participar das decisões sobre o assunto.
O plebiscito sugerido por Cony daria, exatamente, ao povo “a possibilidade de acompanhar as discussões e, mesmo, de participar das decisões sobre o assunto”.
Nem preciso dizer que concordo em gênero, número e grau com ambos, Cony e Dallari.
Também não preciso dizer que tal proposta  encontrará resistência imensamente maior que a do plebiscito sensacionalista sobre as armas,  por colocar em xeque um programa que pode ser dos mais perigosos para o povo brasileiro mas propicia vultosos ganhos para grandes empresas, as quais o defenderão com unhas, dentes e  o$  argumento$ de $empre.
Nem mesmo as greves de fome de D. Flávio Cappio conseguiram impedir que se desperdiçassem recursos públicos e atentasse contra a natureza para atender aos interesses do agronegócio na região do rio Sâo Francisco.
As cartas de Angra, também embaralhadas a gosto dos interessados, valem R$ 8 bilhões cada. Será necessária uma enorme pressão para desfazer tal jogo.
Com a palavra os parlamentares que honram o seu mandato, as ONG’s, a imprensa e as redes sociais.

GREENPEACE ALERTA: USINAS BRASILEIRAS REPETEM ERRO CALAMITOSO DE FUKUSHIMA

Em carta enviada no último dia 11 ao BNDE, o Greenpeace Brasil solicitou a suspensão do financiamento para a construção da usina nuclear de Angra III, “em razão do quadro de incertezas” gerado pelo acidente de Fukushima, que deverá provocar “profundas transformações no ambiente regulatório para essa fonte de energia”.

A suspensão — enfatizou o Greenpeace — se faz necessária como “uma medida de proteção dos recursos geridos pelo banco e que pertencem ao povo brasileiro”, pois, caso razões de ordem técnica inviabilizem a construção da usina, isto “fará o BNDES desperdiçar R$ 6 bilhões”.
O Greenpeace também alertou para um problema que este blogue foi dos primeiros a destacar:

…a permissão de que se estoque os resíduos radioativos em piscinas dentro dos prédios onde estão os reatores também deve ser revista. O complexo nuclear de Fukushima, p. ex., contava com a estocagem de seus resíduos em piscinas internas, o que potencializou os efeitos nocivos do recente acidente. No Brasil, as usinas de Angra I e II que já estão em operação adotam o mesmo procedimento, o que também se projeta para o funcionamento da usina de Angra III.

ACORDA, GODZILLA!

O pobre povo japonês e o mundo continuam sendo prejudicados pelas leviandades cometidas em função da ganância capitalista: a empresa que subornava a fiscalização para poder operar em condições inseguras ainda bate cabeça em Fukushima, indo de improviso em improviso, numa sequência interminável de canhestras tentativas de  remendar  a situação infernal que ensejou. Remediar  já não é mais possível, claro.

Eis a notícia que acaba de entrar no ar:
A Tokyo Electric Power (Tepco), companhia operadora da usina nuclear de Fukushima Daiichi, irá despejar no mar cerca de 11.500 toneladas de água radioativa acumuladas nas instalações da central, anunciou nesta segunda-feira a agência Jiji.
Um porta-voz da Tepco afirmou que ‘cerca de 10.000 toneladas de água depositada nas piscinas e 1.500 toneladas atualmente nos reatores 5 e 6’ serão despejadas no oceano Pacífico.
A fonte indicou que a concentração de radioatividade na água em questão é cem vezes maior que o limite legal, o que considerou relativamente baixa.
‘Não temos outra opção senão despejar essa água contaminada no oceano como medida de segurança’, disse à televisão local o porta-voz do governo, Yukio Edano.
O objetivo da operação é abrir espaço nesses lugares para poder transferir para ali a água com uma radioatividade ainda mais elevada que inunda os prédios de turbinas dos reatores 1, 2 e 3, e que dificulta seriamente os trabalhos dos operários da Tepco para resfriá-los.
Se fosse num desses filminhos trash nipônicos, Godzilla viria punir os mandachuvas da Tepco como eles merecem. Infelizmente, na vida real os vilãos ficam incólumes e só morrerão os abnegados funcionários que estão se expondo à radiação, na melhor tradição dos kamikazes.

POVO BRASILEIRO É COMO MARIDO TRAÍDO: O ÚLTIMO A SABER

A Folha de S. Paulo noticiou no sábado retrasado (19/03):

Uma opção de projeto da usina nuclear Fukushima 1 transformou o local em uma bomba-relógio dupla e acendeu um sinal amarelo sobre usinas nucleares: a estocagem do combustível usado no mesmo prédio do reator.
…Isso pode gerar uma explosão com efeitos trágicos, já que esse material – uma mistura de urânio, plutônio e outros elementos letais – é 1 milhão de vezes mais radioativo do que o combustível novo.
Só no 13º parágrafo aparecia a informação mais relevante para nós, brasileiros:
Várias usinas atômicas no mundo adotam o mesmo projeto de Fukushima, de armazenar o combustível gasto no mesmo prédio do reator. Angra 2 e Angra 3 estão entre elas.
Bastou eu bater os olhos para perceber a enormidade da ameaça: de imediato, redigi o post Fukushima 1 é uma “bomba-relógio dupla”. Angra 2 e Angra 3, também.
Ou não existem mais editores de verdade na grande imprensa, ou a mídia encontra-se totalmente subjugada a gigantes como a Eletrobrás, praticando a mais abjeta autocensura. Pois os enormes riscos que correm os moradores de Angra dos Reis e municípios vizinhos deveriam estar sendo noticiados e discutidos à exaustão.
Pelo contrário, tudo é escondido ou minimizado.
Protesto do Greenpeace em Angra dos Reis

P. ex., um vazamento de material radioativo na usina de Angra 2, ocorrido em maio/2009, só foi comunicado à coletividade 11 dias depois!!! Esperaram  que a situação estivesse sob controle, pois assim a falha despertaria menos interesse e indignação.

Só que, se a situação houvesse saído de controle, não se teria dado aos habitantes da região o direito de escolherem se queriam permanecer nos seus lares ou buscar local mais seguro.

Também perdida no noticiário (de hoje, 01/04) está a informação de que, entre as medidas sugeridas no 1º mundo para evitarem-se acidentes como o de Fukushima, está exatamente a localização — não mais no prédio dos reatores — das piscinas de combustíveis nucleares. 
Enquanto isto, como diz a Marginália II de Gilberto Gil e Torquato Neto, “aqui, o 3º mundo pede a benção e vai dormir”.

Certíssimo está o grande Dalmo de Abreu Dallari: o pesadelo de Fukushima obriga a que “se faça ampla divulgação dos aspectos básicos das opções [energéticas] existentes, informando o povo e dando-lhe a possibilidade de acompanhar as discussões e, mesmo, de participar das decisões sobre o assunto”.
Evidentemente, não é o que ocorrerá enquanto continuarmos confiando cegamente nas autoridades, pedindo a benção e indo dormir.

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR

A possibilidade de as catástrofes provocadas pelas alterações climáticas servirem como estopim para as usinas nucleares explodirem na nossa cara está agora mais do que comprovada.

E, se o zelo pela segurança dos cidadãos se mostrou insuficiente, beirando o ridículo, no episódio de Fukushima, quem garante que o arsenal de bombas atômicas espalhado pelo mundo não possa ser ativado por terremotos, inundações e outras ocorrências que se intensificarão doravante?
Lembrem: as autoridades japonesas apostaram a vida do seu povo em que estaria a salvo da radiação quem permanecesse a 20 quilômetros de Fukushima, aconselhando as pessoas a permanecerem em suas casas.
Agora, já se constata radiação em patamar perigoso a 40 quilômetros da usina. E, enquanto se discute nova remoção, os cidadãos podem estar condenando-se ao câncer futuro.
Quantas outras decisões desastrosas não estarão sendo tomadas pelos poderosos do planeta?
Até quando teremos nosso destino decidido por autoridades que priorizam a ganância capitalista, em detrimento da existência humana?